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As Leituras no Café

Weihua Tang

 

“Ou ler, ou viajar, o corpo e a alma têm que ter um no caminho”. 

 

Durante mais de dezassete anos em Portugal, as pessoas nunca se fartam de me perguntar:

“Porque veio para Portugal”?! Ou “Veio para Portugal, porquê?!”

“Quero ver o mundo”. É a minha única resposta.

Ora na China, ora na Europa, gostava de viajar quando era possível. Diz um ditado chinês: “Quanto mais vê, mais conhecimento ganha”. Ou melhor dizendo, só quando abrirmos a visão, podemos adquirir a aprendizagem dos conhecimentos amplos e das culturas coloridas.

Seja de que maneira for, viajar ficou cada vez mais difícil desde 2020 devido à pandemia mundial. Por isso, a leitura em casa tornou-se a maior parte da atividade do meu tempo livre. “O Livro é o nosso melhor amigo”. Porém, aquela normalidade da nossa vida pré-pandemia parece-me que jamais voltará…

Aprecio muito um provérbio do Maxim Gorky: “Viver no nosso mundo, é impossível entender sem ler”.

Isto faz-me lembrar, antigamente, quando quase todos os dias, levava um livro, para a Cafeteria Foz (Pinto) e me sentava na minha “mesa preferida”, tomava um cafezinho bem quentinho com a chávena escaldada enquanto apreciava a minha leitura. Às vezes, os clientes ocupavam a mesa onde eu habitualmente gostava de ficar. Surpreendentemente, havia pessoas conhecidas, que se levantavam e ofereciam-me o lugar quando me viam.

-“Faz favor! É o teu lugar”. Sorriam enquanto mudavam para a outra mesa.

Quem não fica comovido por esta amabilidade e gentileza ?! A razão pela qual adoro este Café é porque possui o ambiente ideal para ler e aprender. De facto, muitos clientes liam as revistas e os jornais, enquanto tomavam café, ou comiam. Contudo, a nossa vida mudou de repente por causa da COVID-19.

Um certo dia, antes do Natal, encontrei um “cliente fiel” da Cafeteria Foz e ele perguntou-me misteriosamente:

-“Olá! Está tudo bem contigo?! O que aconteceu ?! Já desististe da leitura no café?!”.

-“Estou bem. Obrigada! Andava a tratar dos dentes. Não posso tomar nada quente”, respondi sorridentemente.

-“Muita gente perguntou por ti. Achavam que a chinesa que costumava ler aqui tinha ido embora.”

-“Espero que voltemos a ver-te no café em 2021.” – acrescentou o senhor.

Que simpáticos e hospitaleiros os portugueses! Afinal, consegui impercetivelmente juntar-me à comunidade social aqui em Portugal. Não acreditam?! No fundo, as pessoas já me consideram um “membro especial” nesta “família grande” do café, cujo sítio é o nosso “mundo pequeno”. Sem dúvida, as suas palavras recordaram-me a vida divertida e preenchida antes do “confinamento”.

Que saudades, daquele ambiente cívico no café!

Que saudades, ouvir a música confortável da Rádio Comercial, que ocasionalmente se misturava com algumas gargalhadas das pessoas!

Que saudades, o tlim-tlim das chávenas, enquanto as tiravam e colocavam em cima da máquina do café!

Que saudades, do cheirinho daquele misto de queijo de pão alentejano pintado com um bocadinho de manteiga cintilante, que era o meu favorito!

Que saudades, do cheirinho típico do café português enquanto as pessoas estavam fascinadas a saborear…

Indiscutivelmente, isto é viver. Viver uma vida tão natural, tão simples, tão mundana e, acima de tudo, viver uma vida tão satisfeita! Para mim, o café já está assimilado na vida dos portugueses; o café, é realmente um símbolo de estilo da vida relaxante dos ocidentais. Não é só uma maneira de viver, claro, é uma verdadeira cultura portuguesa.

Citando um provérbio de William Shakespeare: “Sem livros na vida, é como se não houvesse o sol; sem livros na vida, é como se um pássaro não tivesse asas.”

De qualquer modo, durante este novo “confinamento”, esforcei-me para ler o maior número de livros possível, para que pudesse ver um raio de sol na minha vida. Seja como for, nada é comparável! Aliás, ler em casa é diferente, é cansativo, é monótono, é aborrecido, é saturante…porque sempre falta alguma coisa…

E no café?! O café sabe bem e a leitura sabe melhor, pois, sabe mais a vida…

 

Foto: pesquisa Web

01jun21

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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1 Comment

  1. Anabela Magalhaes Caldevilla

    Querida Candy. Ler os teus textos fazem-me viajar e conhecer um Ser Humano maravilhoso.
    OBRIGADA

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