Miguel Correia
Um canal de televisão exibiu o filme “Homem Demolidor” (1993) com Sylvester Stallone e Sandra Bullock. O argumento, para além de um panorama visionário futurista, é um pouco rudimentar e a cena mais apelativa é quando a atriz convida o ator para um momento mais íntimo de “pouca-vergonha”. Como espectador confesso que fiquei duplamente entusiasmado porque, para além de ser a mulher a tomar a iniciativa, tenho a certeza que nenhum homem (no seu perfeito juízo) recusaria tal convite!
No entanto, esqueci-me que o filme envolve ficção científica e enquanto aguardava – com as pálpebras totalmente abertas – o começo do “despe-e-siga”, ela surge com uma espécie de penico metálico enfiado na cabeça e foi só isto. Sem contacto físico. Percebi, em profunda desilusão e de forma abrupta que a magia do cinema pode ser cruel. E que também iria demorar alguns minutos até que o entusiasmo deixasse de ser visível… Uma pergunta deve ser colocada: estará este futuro assim tão distante?!
Recentemente um programa de entretenimento – no qual alguns marmanjos ficam instalados numa casa luxuosa e ainda recebem para não fazerem nada – promoveu um encontro com familiares (provenientes do exterior) num cenário digno de uma cadeia de alta segurança! As pessoas, mantendo a distância, abraçaram-se com mangas plásticas e separadas por uma proteção que impediu qualquer contacto físico. Parece que todas as medidas de segurança contra o raio da pandemia estão a mudar comportamentos e enfrentamos soluções que julgávamos pertencer a filmes de ficção científica.
Resta – aos que sobreviverem – manter acesa e firme a esperança que um destes dias será possível por em prática os ensinamentos do Kamasutra. O distanciamento não traz encanto e há coisas que não devem mudar! Aliás, deixo o desafio aos mais refinados (adeptos das “Sombras de Grey”) – e até mesmo aos que estão limitados à mesma posição – façam lá um esforço para imaginar um momento de maior intimidade sujeito a luvas de plástico, distância de segurança, setas de orientação e muito álcool gel desinfetante. Estranho, não?!
Foto: pesquisa Web
01jun21