Carmen Navarro
Um destes dias que lentamente estamos a deixar o confinamento mais severo, estava eu sentada calmamente numa esplanada, e um a um foram chegando amigos com os quais já há muito tempo não convivia, foi simpático… A música ambiente era muito agradável e variada nos géneros. Naquele momento começamos a ouvir Bob Dylan, um dizia uma coisa e mais outra, quando de repente se instalou uma discussão mais acalorada, começando por serem uns mais a favor e outros contra o facto de Bob Dylan ter recebido o Prémio Nobel da Literatura em 2016. O certo é que apanhou todos de surpresa, e não foram só os escritores, nas redes sociais geraram-se debates, com os comentários mais irónicos que se possa imaginar, vieram de todo o lado em enxurrada. Muitos diziam que a Academia Sueca saia ridicularizada. Outros que parecia uma piada…
Toda esta discussão partiu do fato de que no mês de maio a 24, Bob Dylan fez 80 anos. Talvez por isso foi lembrado, hoje a maioria já nem o lembra..
Bob Dylan é o primeiro canto autor a receber esta atribuição que normalmente é atribuída a Escritores(as) e Poetas com obra marcadamente literária.
Uma das justificativas da Academia Sueca foi a de que “por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição norte-americana da canção folk”.
E a outra foi a de que “Como artista, foi altamente versátil, trabalhou como pintor, ator e autor de roteiros”.
Nem todas as suas canções, e foram muitas, mais de 500, nem todas musicalmente são interessantes, no entanto todas têm um texto muito bom.
Uma Caixa com 36 discos de gravações ao vivo de 1966, reúne as canções do período em que andou na estrada.
O belo outono de Bob Dylan. Creio que é o período mais belo.
Bob Dylan publicou alguns livros. O romance “Tarântula” (1966) Cronicas, em 2005, que foi um grande sucesso vendeu só na América 5000.000 exemplares.
Bob Dylan, foi considerado o poeta rebelde – que se expressou por metáforas dizendo o que nunca ninguém teve coragem de dizer em tempos de Guerra Fria.
Se este é o facto de atribuição de um galardão como o Prémio Nobel da Literatura, então digo que os Senhores da Academia Sueca andam muito distraídos… Então os nossos trovadores, canto autores também merecem… Numa altura que tinham a censura a cortar tudo, e mais alguma coisa que até nem entendiam o que estava escrito queria dizer… Estes Canto Autores, fazedores de letras que nos alertaram, foram revolucionários nas letras de canções com mensagens fortíssimas que ainda hoje estão atualizadas, e na musica lindíssima que ainda hoje é um prazer ouvir.
O músico e poeta canadiano Leonard Cohen aplaudiu a atribuição do Nobel da Literatura a Bob Dylan e considerou que é como “dar uma medalha ao monte Evereste por ser a montanha mais alta”. Bem… Cada um tem direito à sua opinião. Muitos não concordaram, assim como outros concordaram com esta atribuição, sinal claro de que os tempos estão a mudar…
Sempre fechado na sua bolha, Bob Dylan quando soube da atribuição do prémio ficou em silêncio, e arrogantemente, não respondia às chamadas dos membros da Academia Sueca, o que lhe valeu imensas críticas ao seu mau humor permanente. Já nos Concertos nunca falava com o seu público.
Duas semanas depois lá se dignou a falar, afirmando ser “ difícil acreditar”. Não assistiu à cerimónia de entrega do prémio. Afirmando que tinha “outros compromissos”.
Ele também foi laureado com o Óscar, Grammy, Globo de Ouro e uma citação especial do Pulitzer.
Pela etiqueta Columbia Records, editou o seu primeiro disco, em 1962. que foi um insucesso, a etiqueta pensou que o melhor era rasgar o contrato, mas Bob Dylan, pediu que não o fizesse. No anos seguintes de 1963 e 1964 ele apresentou à editora, Blowin’ in the Wind (Soprando no Vento) e Ted Times Tey Are a Changin. (Eles são uma Mudança) Que foram sucesso absoluto. Os Movimentos de Direitos Civis de oposição à Guerra do Vietname, tornaram-nas como hinos para a sua causa. The Times They Are a-Changin, é uma das músicas mais conhecidas da carreira de Bob Dylan. Blowin’in the Wind, tem sido cantada por diversos cantores internacionais.
Estas são duas das composições mais incisivas que têm como inspiração a sociedade Americana até aos anos mais recentes e assim continuou. Ele se reinventa, constantemente criando uma nova identidade.
Um dos ídolos de Dylan foi o cantor de música ‘folk’ Woody Guthrie, e também foi muito influenciado pelos autores da chamada ‘Geração Beatnik’, bem como pelos poetas modernistas.
Para além das cantigas também pinta e desenha e tem 8 livros publicados de desenho e pintura.
Blowin’ In The Wind
Soprando Ao Vento
Quantas estradas um homem precisará andar
Até que possam chamá-lo de homem?
Sim, e quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar
Até que ela possa dormir na areia?
Sim, e quantas balas de canhão precisarão voar
Até serem para sempre banidas?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento
Sim, e quantos anos uma montanha pode existir
Antes que ela seja dissolvida pelo mar?
Sim, e quantos anos algumas pessoas podem existir
Até que sejam permitidas ser livres?
Sim, e quantas vezes um homem pode virar sua cabeça
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento
Quantas vezes um homem precisará olhar para cima
Até que ele possa ver o céu?
Sim, e quantas orelhas um homem precisará ter
Até que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim, e quantas mortes serão necessárias até que ele saiba
Que pessoas demais morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento
Bob Dylan
The Times They Are A-Changin
Os Tempos Estão Mudando
Reúnam-se, pessoas
Onde quer que estejam
E admitam que as águas
Ao seu redor estão subindo
E aceitem que logo
Estarão encharcados até os ossos
Se para vocês, seu tempo ainda tem valor
Então é melhor que comecem a nadar ou afundarão como pedras
Pois os tempos estão mudando
Venham escritores e críticos
Que profetizam com suas canetas
E mantenham seus olhos abertos
A chance não virá novamente
E não falem sem pensar
Pois a roleta ainda está girando
E não há como prever quem ela irá escolher
Pois o perdedor de agora logo mais irá vencer
Pois os tempos estão mudando
Venham senadores, deputados
Por favor escutem o clamor
Não fiquem parados no vão da porta
Não congestionem o corredor
Pois aquele que se machuca
será aquele que nos impediu
Há uma batalha lá fora, e ela não vai parar
E logo ela irá balançar suas janelas e derrubar suas paredes
Pois os tempos estão mudando
Venham mães e pais
de todos os lugares
E não critiquem
O que vocês não conseguem entender
Seus filhos e filhas
Estão além de seu comando
Seu velho caminho está rapidamente envelhecendo
Por favor saiam da nova se não puderem ajudar
Pois os tempos estão mudando
A linha está traçada e a maldição está lançada
E o que agora é lento
Logo mais será rápido
Assim como o presente
Logo mais será passado
A ordem está rapidamente se esvaindo
E o primeiro agora logo mais será o último
Pois os tempos estão mudando
Bob Dylan
O músico norte-americano Bob Dylan, Nobel da Literatura 2016, deu seis concertos em Portugal, os primeiros em 1993, no Porto e em Lisboa, e o último em 2008, em contexto de festival, em Algés.
A estreia em palcos portugueses aconteceu em julho de 1993, no Coliseu do Porto e no Pavilhão de Cascais, com Sérgio Godinho e a norte-americana Laurie Anderson a assegurarem a primeira parte de ambos.
“No Porto, Bob Dylan chegou a passear sozinho pelas ruas da cidade, acompanhado apenas por um segurança”.
No concerto em Cascais, surpreendeu todos, pois tocou de uma forma quase irreconhecível as suas melhores canções.
O autor de “The times they are a-changing”, “Like a rolling stone” e “Just like a woman” regressou depois, em abril de 1999, novamente para dois concertos no então Pavilhão Atlântico, em Lisboa, para cerca de cinco mil pessoas e que o aplaudiram freneticamente.
Novamente no Coliseu do Porto, na abertura de uma nova digressão europeia, foi aplaudido com muita emoção pelos seus fãs.
Muito satisfeito, com o suor correndo pela cara, Bob Dylan chegou a balancear o corpo enquanto fazia solos de guitarra e o mais extraordinário, caso raríssimo, nunca se zangou com os músicos.
Em julho de 2004, apresentou-se em Vilar de Mouros e, quatro anos depois, no festival “Nos Alive”, em Algés, para cerca de 20 mil pessoas.
Os seu fãs deliraram…
Em 2004, Bob Dylan foi eleito pela revista americana “Rolling Stone” o segundo melhor artista de todos os tempos, atrás apenas dos Beatles.
Robert Allen Zimmerman, cresceu numa família judaica de classe média numa cidade mineira. Na adolescência, tocou em diversas bandas, dedicando-se à tradição da música americana, especialmente ao folk e ao blues. Este homem viria a adotar o pseudónimo de Bob Dylan pelo qual ficou famoso e ser laureado com o Nobel da Literatura em 2016, nasceu a 24 de Maio de 1941 em Duluth, no Minnesota.
A Like a Rolling Stone
Como uma pedra rolando
Era uma vez você se vestia tão bem
Jogava um centavo para os vagabundos no seu auge, não é?
As pessoas ligam para dizer ‘cuidado, boneca, você está fadada a cair’
Você pensou que todos estavam brincando com você
Você costumava rir de
Todos que estavam saindo
Agora você não fala tão alto
Agora você não parece tão orgulhoso de ter que falar
estar preparando sua próxima refeição
Como se sente, como se sente?
Estar sem um lar
Como um completo desconhecido, como uma pedra que rola
Ahh você foi para as melhores escolas, tudo bem, Srta. Lonely
Mas você sabe que você só costumava se divertir com isso
Ninguém nunca te ensinou como viver na rua
E agora você vai ter que se acostumar com isso
Você diz que nunca se comprometa
Com o vagabundo misterioso, mas agora você percebe que
Ele não está vendendo nenhum álibis
Enquanto você olha para o vácuo …
Bob Dylan
A música “Like a Rolling Stone” deu origem ao mais icónico grupo de rock e a uma excelente revista semanal, que durante anos ditou os pontos de vista da contracultura. 1965.
Ouçam Bob Dylan da década de 60…
Foi preciso o rebelde chegar ao 80 anos para nos lembrarmos dele!…
Fotos: pesquisa Web
01jul21