Miguel Correia
Seria bom que a nossa consciência estivesse equipada com uma espécie de interruptor para ligar ou desligar conforme a nossa vontade. O nosso sentido crítico está sempre em modo histérico e, quem sabe, será ele o causador de muitas chatices – que podiam ser evitadas. Estamos na altura do ano em que as estradas ficam atulhadas de matrículas com várias formas e feitios (se bem que o nosso último formato parece estrangeiro), o que se traduz na vinda de malta local que se pôs ao fresco quando a crise apertou e muito turista à procura de pechinchas. E, tendo em conta a dependência deste país para com o turismo, somos obrigados a aturar muitas coisas com um sorriso no rosto.
Um destes casos chegou à minha mesa de trabalho e descreve, na perfeição, o completo desnorte deste país em relação à sua própria legislação… Contudo – sendo eu um fervoroso defensor da castração intestinal dos animais voadores que estragam a pintura das viaturas – fiquei um pouco assustado com este crime violento, que arruinou um momento de tranquilidade e degustação de batatas fritas, na esplanada de um restaurante de fast-food, na Praça do Rossio…
Um homem, de nacionalidade francesa, despachou um pombo perante o olhar incrédulo dos restantes clientes do restaurante. De acordo com as testemunhas locais, que contactaram as autoridades, o indivíduo ficou irritado porque um bando de pombos atacou as batatas fritas do filho. Até podiam ter fome, mas se queriam comer deviam ter pedido. Começou com socos e conseguiu agarrar um maltrapilho voador. Arrancou-lhe a cabeça, com grande violência, numa imitação rasca do Mike Tyson que não agradou às restantes pessoas. Nem ao pombo.
Sabemos que, por cá, existe legislação que condena os maus tratos a animais e, talvez por isso, os que assistiram horrorizados a este episódio bárbaro ficaram à espera de uma resposta firme e intransigente perante este assassinato. E ainda devem estar! Porque, de acordo com as autoridades, e por mais macabro que possa parecer, não há crime! Apenas são puníveis as agressões contra animais de companhia ou espécies protegidas. Talvez haja matéria para alterar a legislação em vigor mas, agora que descobri esta lacuna, peço desculpa, mas vou-me ausentar. Tenho a viatura lavada e, antes que comecem com o bombardeamento, vou levar umas batatas aos pombos…
Foto: Pedro N. Silva (Arquivo Etc e Tal jornal)
01ago21