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O Facebook anda mal frequentado

Joaquim Castro

 

 

Os pontapés na gramática que se veem, ouvem e leem, um pouco por todo o lado, está a tomar proporções gigantescas e alarmantes, para grande preocupação por parte de quem respeita e gosta de ver respeitado o bom uso da Língua Portuguesa, mas que ouve sistematicamente as maiores barbaridades linguísticas, inclusive nos canais públicos, RTP e RDP. Não é bem um pontapé na gramática, mas é motivo de reparo, o seguinte: o ministro das Finanças, João Leão, afirmou, há uns tempos, que “esta medida entrará em vigor, quando a Pandemia estiver controlada. E disse-o duas vezes. Mas alguém sabe dizer quando é isso, em que a Pandemia vai estar controlada? É a tal pergunta de um milhão de euros. Ainda hoje, dia 28 de Julho de 2021, a SIC colocou uma legenda numa notícia, que dizia “Cancro da boca e pescoço”. Uma construção frásica miserável. Teria de ser “Cancro da boca e do pescoço”. No Facebook, é o que se vê e lê. Quase todas publicações contêm erros ortográficos, deixando a nu a verdadeira cultura do povo português. Neste caso, a sua iliteracia, formal e de facto.

CAPITÃO DE ABRIL – ESTRATEGO

Otelo Saraiva de Carvalho, um dos principais mentores e operacional da Revolução do 25 de Abril de 1974, está a ser tratado por Capitão de Abril. Contudo, ele era major do exército quando participou na Revolução. Bem se entende esta generalização de considerar os oficias revoltosos, como capitães de Abril, mas nem todos eram capitães. Alguns, até seriam oficiais subalternos, alferes e tenentes. Um capitão era um oficial com estatuto próprio, pertencendo à categoria de oficiais capitães. Otelo era uma patente acima de capitão.

Era major, quando participou no 25 de Abril de 1974, ou seja, era um degrau acima de capitão, pertencendo à classe de oficiais superiores, sendo as patentes seguintes as de tenente-coronel e coronel. Mais acima, temos os oficiais generais, aos quais pertenceu, por graduação, por algum tempo. Otelo Saraiva de Carvalho alcançou a patente de coronel, tardiamente, por estar ligado às FP 25. Por isso, até não estaria mal pensado chamar a todos os militares capitães de Abril, incluindo praças e sargentos, envolvidos na Revolução dos Cravos.

A propósito, Otelo Saraiva de Carvalho é considerado como o “estratega” da revolução do 25 de Abril de 1974. Contudo, talvez a expressão “estratego” seja a mais correcta, de acordo com algumas fontes consultadas. “Estrategista” parece ser uma definição adequada.

OPERADO ÀS VISTAS

Cristina Ferreira, a badalada apresentadora de televisão, referiu num programa, que um convidado, que estava a entrevistar, tinha sido “operado às vistas”, no Hospital de Santo António, no Porto! Evidentemente, que não há operações às vistas, mas sim aos olhos. Também há quem diga que “a senhora foi operada ao peito, ao seio, quando é operada à mama.

Compreende-se este “cuidado” de chamar peito e seio à mama, mas não será um rigor linguístico. Em outra sessão do programa Cristina, também foi muito aliciante ouvir um entendido dizer que um produto que estava a promover era “desintochicante”, quando deveria ter pronunciado “desintoxicante (cs))”.

Em outro caso, foi giro ouvir José Figueiras, na SIC, pronunciar “pluver”, em vez de “pulôver.” Ultimamente, tenho visto um anúncio na televisão, a promover sutiãs. Segundo o vídeo, as duas partes do sutiã, seguram os peitos de forma eficaz e independente. Ou seja, as mulheres têm dois peitos, assim como os homens!

PONTAPÉS PELA ESCADA ACIMA!

Jaime Nogueira Pinto é um conhecido e bem-humorado comentador da rádio e da televisão. Num programa da Antena 1, o comentador, usando uma ironia subtil, disse que os partidos quando se querem ver livres de alguém utilizam os chamados “pontapés pela escada acima”. Perguntado pelo entrevistador, ele disse que esses pontapés eram para os atirar para o Parlamento Europeu e para a Comissão Europeia. Que é como quem diz, vão para lugares, onde vão ganhar muito mais, deixando de chatear os dirigentes partidários. Deste modo, eles, os chutados, até se sentem resignados e compensados, pensando que até foram promovidos. Assim de repente, vem-me à ideia de que “são muitos anos a virar frangos”, uma bela e tão portuguesa expressão, que significa ter experiência para determinadas situações e respectivas soluções. No fundo, uns decidem chutar e outros aceitam ser chutados, pois, para estes, 20 mil euros mensais alcançados pelos chutos, não é para todos, nem para qualquer um!

EM CHEIO!

Estava escrito nas estrelas. Na reunião do Infarmed, realizada em 27 de Julho de 2021, aconteceu o esperado: a frase mais vezes pronunciada foi “aquilo que”. Esta frase tem sido aqui muito badalada, em diversas ocasiões, mas o facto é que não há como fugir disto.

De facto, apresentados pela ministra da Saúde, Marta Temido, os diversos oradores, todos tratados por doutor e doutora, não fugiram à tentação de pronunciar o “aquilo que”, em vez do tradicional “o que”. Aquele “aquilo que”, pronunciado por tantos e tantas vezes, acaba por ser um martírio para os ouvidos.

Parece que toda a gente quer deitar fora a tão portuguesa expressão “o que”, trocando-a por “aquilo que”. Muita gente ali falou, desde o presidente da República, ao presidente da Assembleia da República, assim como o primeiro-ministro e muitos especialistas, todos a dar receitas para se combater a Covid-19.

Quando fez a sua intervenção, o presidente da República foi muito “engraçado”, ao dizer que o que foi dito na reunião foi feito de modo a que todos os portugueses compreendessem. Mas eu duvido que a maioria dos portugueses tenham entendido bem o que lá foi dito. Antes pelo contrário!

 “CANEIRADAS”

Marco Caneira é um ex-futebolista e simpático comentador de um programa desportivo, emitido ao fim da tarde, se segunda a sexta-feira, na SIC Notícias. E se, desportivamente, não sei se o que diz é certo ou errado, no aspecto linguístico, acho que não tem perfil para um bom desempenho. Esta coisa de ele dizer, entre noutras gafes, que “Luis Díaz tem-se vindo a afirmar no Futebol Clube do Porto”…

Tendo em conta a subtileza da Língua Portuguesa, este “tem-se vindo”, não é de todo uma expressão muito pacífica e é hilariante! Mas se formos a falar do mundo do desporto, muito haveria para falar, começando por Jorge Jesus, tanto famoso como treinador de futebol, como pelas suas trapalhadas linguísticas. Ele bem diz que não é nenhum Eça de Queirós. Aí, ele tem toda a razão.

Mas o melhor lugar para colher as calinadas, é nas transmissões desportivas, quer nas televisões, quer nas rádios. Lembro duas situações, já aqui tratadas. Uma refere-se ao caso de alguns relatadores dizerem que um jogador rodou sobre si mesmo, numa jogada em que rodopia, com a bola. Outra, que até vai contra as leis da Física, é ouvir dizer que “a bola, rematada, ganhou velocidade, ao cair numa zona alagada de água no campo”.

CORES

Quando alguém quiser adquirir um telemóvel, pode escolhê-lo na Internet. As lojas apresentam lá os seus produtos, marcas, modelos, preços e características. Mas todas essas lojas têm algo em comum, o erro das cores. De facto, quase todas elas referem as cores, no masculino. Cor: preto, cor: vermelho, cor: amarelo, cor: branco. Só se safam o azul, o verde e o rosa, cores que são do género neutro. Quanto a meteorologia, também temos o caso do sol, da chuva, da neve e do vento“, “no norte e centro” do país, quando o mais correcto seria dizer, “no norte e no centro do país”. Poderá não estar mal, mas soa mal, certamente, a muitos ouvintes. Também há caso da RDP Madeira e Açores, Há a RDP Madeira, há a RDP Açores, mas não há a RDP Madeira e Açores. Talvez seja por preguiça, que tal acontece. É mais cómodo, assim! É que este “e”, só fica bem no caso de Trá-os-Montes e Alto Douro.

 DE LISBOA OU DO PORTO?

Close up of a mature man taking a vaccine in his doctors office

Já se sabe que quase todas as regiões de Portugal têm as suas variantes da Língua Portuguesa. Falando das regiões de Lisboa e do Porto, noto e acho graça a muitos termos lá usados. Se alguém é da região de Lisboa, pode dizer “tá”, em vez de “está”. Do mesmo modo, dirá “vacina”, bem. Mas se for da região do Porto, poderá dizer “Va(á)cina, mal. Do mesmo modo, dirá “sufá”, mas se for da região de Lisboa, talvez diga “sófá”. Se ouvirmos a Diana Chaves, no programa “Casa Feliz”, poderá ouvi-la dizer, o João (Baião) não “tá” cá, (na Casa Feliz). Mas é “tá” em tudo.

Se falarmos em “imenso”, estaremos a falar à moda da região de Lisboa, pois, que no Porto, é muito ou até, “munto”. O “morcom”, só pode ser do Porto, assim como “carago”. Mas “betinho”, talvez seja um termo lisboeta. No Porto, o que não falta são termos giros. Ora veja: aguça é um afia lápis; alapar é sentar, breca é cãibra, azeiteiro é parolo, bater a caçoleta é morrer, fanico é desmaio, picar o ponto é namorar, ou mais que isso, griso é frio, bujão é rabo e chaço é um carro velho.

Aqui chegados, vale a pena falar da famosa expressão “contas à moda do Porto”. Segundo Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, há uma dúvida, de se é Porto, cidade de Portugal, ou se é um porto qualquer. De acordo com uma explicação que ouvi, que parece convincente, segundo a qual a expressão se refere não à cidade mas a um qualquer porto, já que os marinheiros, partindo cada um para o seu destino, fariam contas separadas, pois era grande a probabilidade de nunca mais voltarem a ver-se.

Mas se escrevermos “contas à moda do Porto, com maiúscula inicial, estamos mesmo a falar da cidade, capital do Norte. E quem não sabe, que muitos falantes de Lisboa pronunciam “Lesboa”?

 

Nota: Por vezes, o autor também erra!

 

Fotos: Pesquisa Web

 

01ago21

 

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