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Ser Poeta…

Carmen Navarro

 

A Alma de Poeta habita cada ser, mas em alguns vive adormecida e em outros está desperta e tem a capacidade de dizer muito em poucas palavras…

A verdade é que o poema é eterno e seu criador também, fale de amor, fale das nossas aflições, fale de política, seja qual for a mensagem o poeta vê tudo o que o nosso olhar nem sempre vê, é um mundo de emoções.

Ser poeta

é sentir o mundo girar

sem tirar os pés do chão.

Ser poeta é ver o que

os outros não vêm.
Ser poeta é aquele que

toca os sentimentos

dos outros

com o seu pensamento.

Ser poeta é fazer das trevas

um lindo arco-íris.

Ser poeta,

nem precisa de escrever
basta que saiba

interpretar o que lê

e o que vê…
É o mesmo que ser Mago

que faz magia

só com o sentir

do pensamento.

Nós somos poetas

fazemos magia

com o fio invisível

que nos aproxima,

tem em cada ponta

um laço que nos agarra.

Isto também é ser poeta!…

C.Navarro

A poesia é uma manifestação artística que pode ou não estar baseada em palavras como o poema. Assim, a poesia é um conceito mais amplo que pode envolver pinturas, esculturas, literatura, ou o simples olhar que nos provoca emoções.

Já o poema está inserido no universo literário formado por um conjunto de versos que são chamados de estrofe.
O poema pode ser formado por dois versos, intercalados por quadras, ou diversos versos. Ou só por quadras.

Ai as almas dos poetas

Não as entende ninguém;

São almas de violetas

Que são poetas também.

 

Andam perdidas na vida,

Como as estrelas no ar;

Sentem o vento gemer

Ouvem as rosas chorar!

 

Só quem embala no peito

Dores amargas e secretas

É que em noites de luar

Pode entender os poetas

 

E eu que arrasto amarguras

Que nunca arrastou ninguém

Tenho alma pra sentir

A dos poetas também!

Florbela Espanca

O Poema pode apresentar uma forma fixa como o soneto, que é formado por dois quartetos, e por dois tercetos.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

 

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

 

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E enfim converte em choro o doce canto.

 

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões

Há diversos géneros de poema, alguns:

Género Clássico: Lírico – Épico – Dramático – Bucólico – Elegia – Endecha – Nénia – Epitáfio – Erótico.

Género Atual: É livre não obedece a formas a métricas rígidas, podem ser mais musicais ou não. Os temas podem ser o que o poeta necessita de dizer…

Neste campo foi muito importante o poema de Intervenção sócio- política dos anos 60 e 70, muitos deles usados como letras de canções, que servindo-se de Metáforas disseram o que os desprevenidos desconheciam.

(Metáfora é um arranjo poético, os poemas passam a ter duplo sentido e deixa para o leitor a tarefa de compreender as relações estabelecidas entre as palavras e suas intenções, descobrindo assim, o real significado das mesmas.)

Foram os poetas com letras de grande poesia que alertaram os portugueses, que a sua Liberdade estava a ser devorada pela Ditadura Fascista, e as injustiças sociais, a miséria e exploração em que os trabalhadores viviam também. Estes poemas foram acompanhados de música para melhor passar a mensagem, e ela ficar no ouvido.

José Mário Branco, grande cantautor, Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Fausto e outros…

Muitas vezes recorrendo a metáforas, para iludir o lápis azul da censura, em composições  revolucionárias e ao mesmo tempo muitas delas de grande lirismo dizem o que necessitávamos de ouvir e não sabíamos.

Eh companheiro

Eh companheiro, aqui estou

Aqui estou pra te falar

Estas paredes me tolhem

Os passos que quero dar

Uma é feita de granito, não se pode rebentar

Outra de vidro rachado pras duas pernas cortar

Eh companheiro, resposta,

Resposta te quero dar

Só tem medo desses muros quem tem muros no pensar

Todos sabemos do pássaro cá dentro a querer voar

Se o pensamento for livre, todos vamos libertar

Lalá lalá lará laralalá

Lará lará lará laralalá

Lará lará lará laralalá

Eh companheiro, eu falo,

Eu falo do coração

Já me acostumei à cor

Desta negra solidão

Já o preto que vai bem, já o branco ainda não

Não sei quando vem o vento pra me levar de avião

Eh companheiro, respondo,

Respondo do coração

Ser sozinho não é sina nem de rato de porão

Faz também soprar o vento, não esperes o tufão

Eh Companheiro

José Mário Branco

Mesmo a dor e o sofrimento o poeta transforma em poesia.

Liberdade

Viemos com o peso do passado e da semente

Esperar tantos anos torna tudo mais urgente

e a sede de uma espera só se estanca na torrente

e a sede de uma espera só se estanca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada

Só se pode querer tudo quando não se teve nada

Só quer a vida cheia quem teve a vida parada

Só quer a vida cheia quem teve a vida parada

Só há liberdade a sério quando houver

A paz, o pão

habitação

saúde, educação

Só há liberdade a sério quando houver

Liberdade de mudar e decidir

quando pertencer ao povo o que o povo produzir

quando pertencer ao povo o que o povo produzir.

Sérgio Godinho

Estas são as armas que os poetas usam para dizerem o que pensam.

Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete

e uma alma para ir à escola

mais um letreiro que promete

raízes, hastes e corola

 

Dão-nos um mapa imaginário

que tem a forma de uma cidade

mais um relógio e um calendário

onde não vem a nossa idade

 

Dão-nos a honra de manequim

para dar corda à nossa ausência.

Dão-nos um prémio de ser assim

sem pecado e sem inocência

 

Dão-nos um barco e um chapéu

para tirarmos o retrato

Dão-nos bilhetes para o céu

levado à cena num teatro

 

Penteiam-nos os crânios ermos

com as cabeleiras das avós

para jamais nos parecermos

connosco quando estamos sós

 

Dão-nos um bolo que é a história

da nossa historia sem enredo

e não nos soa na memória

outra palavra que o medo

 

Temos fantasmas tão educados

que adormecemos no seu ombro

somos vazios despovoados

de personagens de assombro

 

Dão-nos a capa do evangelho

e um pacote de tabaco

dão-nos um pente e um espelho

pra pentearmos um macaco

 

Dão-nos um cravo preso à cabeça

e uma cabeça presa à cintura

para que o corpo não pareça

a forma da alma que o procura

 

Dão-nos um esquife feito de ferro

com embutidos de diamante

para organizar já o enterro

do nosso corpo mais adiante

 

Dão-nos um nome e um jornal

um avião e um violino

mas não nos dão o animal

que espeta os cornos no destino

 

Dão-nos marujos de papelão

com carimbo no passaporte

por isso a nossa dimensão

não é a vida, nem é a morte

Natália Correia

 

Para o Poeta nem tudo é magia, beleza e amor…

Que os Poetas e seus poemas vivam para sempre. Sem os poetas a vida era mais nebulosa.

 

 

 

Fotos: pesquisa Web

 

01ago21

 

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