Joaquim Castro
Às vezes, somos obrigados a pensar o que leva certos políticos e outros comunicadores a utilizar frases mal construídas, e sem que haja a expectativa de que, um dia, eles se deem conta dos erros gramaticais que cometem, seja por si próprios, seja por serem alertados por outras pessoas. De facto, é absolutamente ridículo ter de ouvir tantos pontapés na Gramática, a cada momento, a cada hora, dias e dias, sem parar. São sempre os mesmos erros, que temos de ouvir, sem querer. Assim, não deixo de ficar muito preocupado com o caminho que a Língua Portuguesa está a tomar. Parece que e situação é cada vez pior. Fico a cismar, como é possível que o primeiro-ministro de Portugal e o Presidente da República, por vezes, se expressem em tão mau português. Não me lembro de situação tão caricata, em políticos anteriores. Por isso, o nosso trabalho também serve alertar os leitores para os erros que possam cometer, tendo em conta que o modo como falámos ou escrevemos, diz muito de nós. Até há quem perca o interesse por outra pessoa que escreva com erros ortográficos!
OUTRA VEZ O ATRÁS E COMPANHIA
O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, usou, em 31 de Julho de 2021, a expressão “há 10 anos, atrás”, a propósito do aumento do número de alunos do ensino superior, nos últimos 10 anos. Ora, a um ministro com tão alta pasta, como é a do Ensino Superior, fica muito mal que use a expressão “há 10 anos atrás”, tanto mais que nunca poderia ser “há dez anos à frente”. Conclusão, o ministro foi reprovado a português!
No jogo entre o Sporting Clube de Portugal e o Sporting Clube Braga, para a Supertaça de Futebol, realizada no dia 31 de Julho de 2021, no Estádio Municipal de Aveiro, que o Sporting Clube de Portugal venceu por 2-1, a certa altura, o narrador da TVI, que fez a transmissão do encontro, considerou como um “grande detalhe” uma jogada vistosa de um dos jogadores. Falta saber o que é um grande detalhe, considerando-se que um detalhe só pode ser pequeno.
Por outro lado, para além do “não é”, repetidamente pronunciado pelo apresentador José Figueiras, no programa da manhã da SIC, ele trata uma professora por “setora”, como as crianças da escola o fazem. Por seu lado a professora entrevistada, a propósito da sua publicação de um livro sobre educação sexual, falou em “períúdo”, em vez de “período”.
UM MINISTRO AOS SALTOS!
Também tenho reparado que a palavra com que Rúben Amorim, treinador de futebol do Sporting Clube de Portugal, é o “ahmmmmmmm”. Parece que o motor tem dificuldade em arrancar, quando começa uma nova resposta às perguntas dos jornalistas. Não conheço outro treinador, com tal tique.
Já Lacerda Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, utilizou, repetidamente, a expressão “faxas” de idade, referindo-se aos jovens dos 17 e 18 anos, que estavam a ser vacinados contra a Covid-19. “Faxa”, daqui, “faxa”, dali, “faxa”, dacolá. Afinal, “faxa” e “faixa”, a forma correcta, não devem ser a mesma coisa. O secretário de Estado também se refere a Direcção Geral “de” Saúde, quando a designação correta é Direcção Geral “da “ saúde. Ele erra sempre nesta instituição.
“ATOA”
Um facebookiano reagiu a uma publicação, sobre a guerra do Afeganistão, pedindo que a autora de um comentário não falasse “atoa”. Deveria ter escrito “à toa”, que significa ao acaso, à sorte, de qualquer maneira. “Atoa” vem do verbo atoar, que é sinónimo de rebocar, tal como o faz um rebocador, atoar um navio, em regra, de maior porte. Mas à toa, é o que se vê mais nas publicações das redes sociais, que é onde a Língua Portuguesa sofre os maiores ataques. E não se pense que os malfalantes são aqueles que têm menos instrução. Não, nada disso. Anda por lá muita gente, com diplomas universitários, que não é um bom exemplo no uso do português. De entre eles, temos políticos, docentes – quem diria -, cientistas e muita outra gente, que era suposto não andarem aos pontapés na gramática. Isto, sem falar em jornalistas e apresentadores. No momento em que escrevo este texto, tenho estado a ouvir uma jornalista a falar em “acelarar”, em vez de “acelerar”, que é a forma correcta de pronunciar esta palavra.
PERFIS FALSOS COM RABO DE FORA!
O estilo de escrita e os mesmos erros ortográficos podem levar à descoberta dos verdadeiros detentores de perfis falsos, usados nas redes sociais, especialmente, no Facebook. No meu grupo de amigos, tenta-se descobrir a identidade de um tal Pedro. E, realmente, há particularidades que combinam com alguns actores políticos, que tentam ganhar vantagem, através de ataques cerrados a outras candidaturas, apontando defeitos e façanhas a candidatos, especialmente, dissidentes de um partido do poder. Escrever “á”, em vez de “à” ou escrever “nossa Terra”, em vez de “nossa terra”, pode ser uma pista, que conjugada com outras podem levar à descoberta do verdadeiro dono do perfil. Não é a primeira vez que vejo isto, pois já em 2013, um perfil falso fez o trabalho sujo de um candidato que viria a vencer para a Câmara Municipal. Esse, não era candidato, mas ganhou um bom “tachito” pelos relevantes serviços prestados. Em 2017, candidatou-se, pelo mesmo partido, em outro concelho do Norte, mas não conseguiu vencer, tal como tinha conseguido para os amigos, em 2013. Em conclusão, parece que já se sabe quem o tal Pedro de que falo e qual o partido que alimenta. Até há quem diga que é pago pelos munícipes! Mas o estilo da escrita e os erros ortográficos vão acabar por o denunciar. Mas isso pode só acontece depois das Eleições Autárquicas de 26 de Setembro de 2021.
EVACUAÇÃO
Vivi toda a Guerra do Ultramar, em Angola, de 1961 a 1975. Eu tinha chegado a Luanda, com 12 anos, em Fevereiro de 1960, a bordo do paquete Vera Cruz. Um ano depois, deu-se a rebelião, que viria a ser conhecida por Terrorismo e, depois, Guerra de Libertação. Portugal chamava-lhe Guerra do Ultramar, nos territórios de Angola, Moçambique e Guiné, mais tarde designada por Guiné-Bissau. Regressei à Metrópole, como então se chamava Portugal, considerando que Portugal era todo o território do mundo português, em Janeiro de 1975, a bordo do paquete Infante Dom Henrique. Durante toda a Guerra do Ultramar, 1961/1975, vi passar centenas de aviões e helicópteros militares, por cima do lugar onde vivia. Quando os helicópteros regressavam, quase sempre, transportavam feridos ou mortos, retirados da frente das operações. Sabia-se disso, porque esses transportes eram feitos em macas amarradas em cada um dos lados do trem de aterragem dessas aeronaves. Eram as chamadas “evacuações”. Contudo, essa designação é mais apropriada para falar se falar de esvaziamento, libertação de um espaço, normalmente colectivo. Ou seja, não se evacuam pessoas, mas sim lugares, como, por exemplo, a retirada de um lugar, de uma região ou de um país, de habitantes ou tropas.
“PLANTAFORMA” E “CONFRAGEM”
Em geral, uma plataforma é superfície horizontal e plana, mais alta do que o terreno que a rodeia. É também, uma estrutura ou estrado fixo à altura das portas das carruagens, para o embarque e o desembarque nas estações de caminhos-de-ferro. Mas também pode ser muitas outras coisas, como uma obra de terra ou de madeira em que assenta a artilharia, assim como, um lugar, oportunidade ou conjunto de meios para expressar ideias ou iniciar acções, relacionadas com o entendimento.
Por sua vez, segundo uma pesquisa que fiz, a plantaforma, ou planta-goteira grande, é uma planta gerada dentro das cavernas verdejantes.
A cofragem é uma estrutura, em madeira, em metal ou em outro material, instalada para evitar desmoronamentos em poços e trincheiras. É também conhecida por entivação. De outro modo, serve também para suster e moldar o betão até à sua completa solidificação, como é o caso dos pilares e das vigas dos prédios. Em conclusão, diz-se “plataforma” e “cofragem”. O terno “Confragem”, não o encontrei.
O VALOR DAS COISAS
Em tempos, ouvi um “especialista”, dos muitos que andam pelas televisões, que “todos os dias havia 90 ou 100 mil novos casos de Covid-19”. Esse intervalo de números, só pode ser fruto de um erro de comunicação. Provavelmente, o comentador quereria dize 90 mil ou 100 mil novos casos de Covid-19. Às vezes, surgem casos destes, em que se perde a noção do que dizemos, da forma como o dizemos. No caso referido, o autor quis simplificar a frase, mas tal não é possível fazê-lo, sob pena de lhe modificar o sentido rigoroso da expressão. Mas há outras expressões enganosas. Quando se diz que alguém se reforma, aos 66,5 anos, estamos a dizer que esse alguém se reformou aos 66 anos e meio, ou seja, aos 66 anos e 6 meses. Mas se dissermos que alguém se reforma, aos 66,4 anos, não é aos 66 anos e 4 meses, mas sim 66 anos e quatro décimas de 12 meses. Ou seja, 66 anos, 4 meses e 24 dias. Isto acontece, por que o tempo obedece ao sistema sexagesimal, de base 60, criado pela antiga civilização Assíria. Por isso, não se deve confundir o sistema sexagesimal com o sistema decimal, em que dez unidades de uma ordem qualquer formam uma de ordem imediatamente superior. Uma décima representa-se por 0,1, ou seja, uma parte em cada dez.
Nota: Por vezes, o autor também erra!
Fotos: pesquisa Web
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