Maximina Girão Ribeiro
O Bonfim tem no seu território uma outra grande Igreja católica, localizada na parte alta da freguesia, na zona da Antas. Situa-se entre as artérias da Avenida Fernão de Magalhães, a Este, Rua de Santo António das Antas, a Norte, Rua de Naulíla, a Oeste, Rua de Fernando de Bulhões, a Sul.
Na actualidade o espaço envolvente é caracterizado por um trânsito intenso, destacando-se grande parte de casas unifamiliares, rodeadas por jardins, a par de edifícios de grande volumetria. Nos anos 30/40 do século XX esta zona da cidade era bem diferente do que é hoje, pois não existiam ainda a maior parte das ruas atrás citadas e os terrenos estavam ainda desocupados de habitações, sendo explorados agricolamente, ou utilizados na pastorícia.
Os primórdios desta igreja começaram a 13 de Junho de 1935, quando um grupo de 7 católicos pediram pessoalmente ao Bispo Diocesano, D. António Augusto de Castro Meireles, que procedesse à criação de uma Paróquia e à construção de uma Igreja Paroquial, na zona das Antas, na cidade do Porto.
No ano seguinte, no dia 13 de Junho, o mesmo Bispo Diocesano benzia a primeira pedra da Igreja Paroquial de Santo António das Antas, cujo projecto inicial para a construção da igreja era da autoria do Arquitecto José Ferreira Peneda. A 13 de Junho de 1937, o Prelado Diocesano celebrava a primeira Missa na cripta da Igreja, que se encontrava em construção. Logo, em 13 de Junho de 1938, por determinação do mencionado Bispo Diocesano foi criada a Paróquia de Santo António das Antas, com sede na referida cripta (actual Centro Social das Antas).
A 13 de Junho de 1938 foi nomeado o primeiro sacerdote da Paróquia de Santo António das Antas. Mas, só a 13 de Junho de 1948 é que a primeira pedra da actual Igreja Paroquial das Antas foi solenemente benzida pelo bispo D. Agostinho de Jesus e Sousa.
O Jornal ‘O Comércio do Porto’, de 14 de Junho de 1948 publicava a seguinte notícia:
“A cidade do Porto vai ter mais uma igreja, templo majestoso, que será para os vindouros o atestado vivo de uma época de reeducação religiosa e mensagem arquitectónica. Ontem, Domingo, 13 de Junho, efectuou-se a cerimónia da bênção e lançamento da primeira pedra, cerimónia revestida de invulgar interesse. O vasto terreno, destinado ao novo templo, está situado no melhor local das Antas.”

A sucessão cronológica destes acontecimentos mostra-nos que os primeiros factos importantes desta Igreja se realizaram sempre a 13 de Junho, dia de Santo António, o padroeiro deste templo, um santo com muitos devotos em Portugal que o veneram como santo popular, casamenteiro e arauto das causas perdidas. Igualmente, em diferentes partes do mundo, se presta veneração a este santo português, especialmente em Itália, onde é conhecido por Santo António de Pádua.
Nascido por volta de 1190 (?), de seu nome Fernando de Bulhões, viu a luz do dia em Lisboa, tendo sido baptizado na catedral dessa cidade. Era filho de D. Teresa Taveira, proveniente de uma família nobre e de Martinho de Bulhões. Fernando frequentou a escola da Sé e, aos 20 anos, professou nos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, em Lisboa, no Mosteiro de São Vicente de Fora. Foi nesta ordem religiosa que prosseguiu os seus estudos teológicos, continuando depois no mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. No entanto, já ordenado padre, decidiu mudar de Ordem Religiosa, numa época em que surgiam outras sensibilidades religiosas, direccionadas para uma nova reflexão sobre a vivência do Evangelho.
Também Fernando se sentiu atraído pelas recém-criadas Ordens Religiosas, as Ordens Mendicantes, nomeadamente os Dominicanos e os Franciscanos. A sua nova opção levou-o a envergar o hábito dos franciscanos e trocando, nessa altura, o seu nome de baptismo para António.
É nessa época que passou a viver com outros frades no eremitério dos Olivais, fundado entre 1217-1218 pelos franciscanos, junto a uma antiga capela dedicada a Santo Antão, que existia nos arredores de Coimbra, desde os alvores do século XIII, lugar situado numa colina que, na época, era afastado do centro da cidade. Daí partiram os franciscanos que viriam a ser conhecidos como os cinco Mártires de Marrocos.
Foi neste eremitério que, no ano de 1220, deu entrada Fernando de Bulhões, que vivia na opulência dos frades crúzios, mas decidiu que a sua vida fosse pautada pela pobreza, pelo recato e pelo despojamento dos bens materiais, como era a vivência praticada pelos franciscanos. Mas, tocado pelo episódio relacionado com a morte, em Marrocos, dos cinco frades franciscanos, perpetrada pelos muçulmanos, António partiu para essa região, com a finalidade de converter os ‘infiéis’ (muçulmanos) à fé cristã. Por ter adoecido gravemente, não pôde consumar o seu desejo e viu-se forçado a embarcar de regresso a Lisboa. Contudo, uma tempestade no mar, acabou por atirá-lo para a Sicília. Em Itália, conviveu com os Franciscanos e, em 1224, por sugestão do próprio S. Francisco de Assis, tornou-se Mestre em Teologia, leccionando em Bolonha e em outras Universidades, como Toulouse, Montpellier e Limoges.
Quando S. Francisco morreu, em 1226, António foi viver para Pádua, onde a sua fama começou a atrair cada vez mais pessoas que iam ouvir os seus sermões e colher os seus conhecimentos. Morreu em Arcela (Itália), no dia 13 de Junho de 1231, este frade franciscano português e Doutor da Igreja Católica. Encontra-se sepultado na Basílica de Pádua, sendo o seu túmulo diariamente visitado por muitos peregrinos que aí acorrem para implorarem a sua protecção.
Nesta igreja que lhe é dedicada, no Porto, de estilo clássico e com uma certa influência italiana, a imagem de Santo António é uma belíssima escultura, da autoria de Avelino Rocha, que se situa ao lado do altar-mor, erguendo os braços e os olhos em direcção ao céu, numa postura de prece.

A fachada principal da igreja está orientada a Oeste e ostenta, de cada lado, três nichos rectangulares, contendo os da esquerda, as imagens escultóricas, em bronze, de São João de Deus, São Dâmaso e São João de Brito. Do lado direito os nichos albergam São Teotónio, Santa Beatriz da Silva e Santo António.

Do projecto primitivo, desenvolvido pelo arquitecto José Ferreira Peneda, apenas se construiu a cripta que foi transformada em salão paroquial pois, mais tarde, em 1944, surgiu um novo projecto, fruto de uma tese de final de curso, apresentada na Escola de Belas Artes do Porto e elaborada por Fernando Tudela e Fernando Barbosa, projecto que acabou por substituir o anterior.
A igreja, de planta rectangular, possui três naves, com abóbada de ogivas na nave principal, iluminada por frestas esguias, sendo a central mais alta e mais larga do que as laterais, localizando-se ao fundo a capela-mor, ovalada, onde se encaixa o altar-mor, com um sacrário da autoria da escultora Irene Vilar.
A capela-mor é consideravelmente mais estreita, em semi-círculo, marcada por contrafortes salientes de cantaria. Ao centro, apresenta a imagem escultórica em bronze, representando Cristo Crucificado.

A cobertura é quadriculada, em abóbada de ogivas.

A nascente, encontra-se o baptistério e, ao longo do templo, existem pequenos altares laterais. Salienta-se, também, a sacristia e o cartório do pároco, além de outras dependências.
Uma série de escultores deixaram, nesta Igreja, as suas obras imortalizadas, nomeadamente Avelino Rocha (imagem de Santo António); Maria Irene Vilar (sacrário); Cabral Antunes (Santa Teresa do Menino Jesus); Manuel Cabral (S. José); Maria Amélia Carvalho (Sagrado Coração de Jesus); Laurentino Ribatua (S. Judas Tadeu); Isolino Vaz (Santa Rita de Cássia); Manuel Cabral (Nossa Senhora de Fátima), entre outros grandes artistas.

Sobressai, exteriormente, a grandiosa torre sineira, que se enquadra com harmonia, neste conjunto arquitectónico. Possui sete metros de altura e apresenta um carrilhão de nove sinos.
Um aspecto curioso é que, devido ao arrastar das obras de construção desta igreja, a paróquia foi criada mesmo antes da finalização dos trabalhos de construção do templo.
Para terminar, deixo uma das muitas frases atribuídas a Santo António de Lisboa ou de Pádua:
“A paciência é a melhor maneira de vencer.”
E, por fim, uma sugestão: para quem não conhece esta Igreja, fica o convite para uma visita que será, por certo, muito agradável.
Obs – Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc. eTal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.
Fotos: pesquisa Web
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