Luísa Camarinho
O poder das palavras é bastante relativo. Há quem lhes confira a mesma importância das ações e há quem, como eu, as distinga, preterindo as segundas em detrimento das primeiras. Ainda assim, há algo consensual: a relatividade da importância dada a meros vocábulos está a tornar-se cada vez mais perigosa.
Já várias tragédias foram causadas pelo impacto díspar que uma palavra tem em pessoas diferentes. Exemplo disso é a tentativa de homicídio de que foi vítima o escritor britânico Salman Rushdie. Rushdie é ameaçado de morte há décadas, apenas porque defende a liberdade artística assente no pressuposto de que histórias são apenas isso e, nesse sentido, as palavras que as constituem não têm nenhum peso a não ser o de servir o leitor e dar-lhe prazer.
Victor Hugo dizia que “as palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade”, mas eu não concordo. Acho que palavras são meras associações de letras e, assim sendo, cada um lhes confere a importância que acha conveniente. Importância essa que culmina muitas vezes nos extremismos criminosos a que temos assistido.
A liberdade de dizermos o que pensamos é, também, muitas vezes, condicionada por esta importância excessiva dada a meros termos. Já não podemos dizer que que temos uma tia velha, temos de chamar-lhe idosa. Mesmo que ela própria não se apoquente com isso, a sociedade fica extremamente ofendida. As ditas asneiras também são proibidas, para algumas pessoas, mesmo que, na realidade não passem de unidades linguísticas como todas as outras.
Concluo dizendo que palavras e ações são opostas. Umas são declarações e outras concretizações e, enquanto assim for, estamos safos. Ou então não que a porra do mundo está virada do avesso e já nem os velhos podem ser velhos em paz e sossego.
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