Foi destaque na edição de fevereiro de 2019 do ‘Etc. e Tal’, quando a Proteção Civil ameaçou encerrar o centro comercial STOP, na Rua do Heroísmo, paredes meias com o Museu Militar do Porto. E se o foi na altura, volta a sê-lo agora e pelos mesmos motivos de então: falta de segurança do edifício.
O alerta da Proteção Civil, em 2019, era de “risco de tragédia”! Na altura, a administração dizia não ter dinheiro para cumprir com as exigências relativas às mais básicas, mas imprescindíveis, normas de segurança, enquanto a Câmara do Porto estudava intervir na regularização do espaço, falando-se mesmo na compra do edifício, isto caso os proprietários do espaço não conseguissem resolver a situação. Até hoje, e pelos vistos, não conseguiram dar a devida resposta.
Assim sendo, e passados três anos, a história repete-se, num edifício que foi inaugurado em 1982 com toda a pompa e circunstância, pelo facto de ser o primeiro centro comercial da zona oriental do Porto. Um espaço com uma área de seis mil metros quadrados, distribuída por 6 pisos, e, de início, composta por 169 lojas, diversas áreas para restauração, duas salas de cinema, e ainda um parque de estacionamento subterrâneo.
Com o fracasso comercial que o espaço registou de ano para ano, o ‘STOP’ acabaria por ser como que ‘invadido’, por escritórios de pequenas e médias empresas, mas, essencialmente, por jovens ligados a grupos de música que aí, montaram os seus estúdios de gravação, ou salas para ensaios, atingindo cerca de meio milhar de utilizadores a fazerem uso de106 salas, a maior parte delas – ao que se sabia, e hoje volta a saber-se – sem seguro contra riscos, facto de inegável relevância se tivermos em conta que o ‘STOP’ tem, no seu histórico, o registo de quatro incêndios, com o mais grave a acontecer em junho de 2012, num estúdio (dos muitos) de gravação que lá existem, e do qual resultaram três feridos ligeiros.
SEM SAÍDAS DE EMERGÊNCIA E SISTEMA DE DETEÇÃO DE INCÊNDIOS
A questão da segurança do “STOP” volta, assim, à ordem do dia e, se na verdade, desde 2019 – altura em que o ‘Etc. e Tal’ fez reportagem no local -, até agora, nada foi feito nesse sentido, o assunto regressa à baila e com toda a legitimidade, até porque, sabe-se – e recentemente o ‘Porto Canal’ e a RTP deram-lhe o devido destaque -, que além de não haver seguro para riscos, acresce o facto de não existirem saídas de emergência, nem sistemas de deteção de incêndio.
RUI MOREIRA SOBRE O ‘STOP’, EM 2019: “É UM PATRIMÓNIO MUITO IMPORTANTE PARA A CIDADE! É ALI A FÁBRICA DA MÚSICA…”
A Câmara do Porto volta a estar no centro da questão, como a única entidade que pode salvar a denominada ‘Fábrica da Música’.
Há três anos, Rui Moreira dizia ao ‘Etc. e Tal’ que “não temos outro sítio para onde eles (músicos) possam ir, e eles também não querem de lá sair. Portanto, estamos a encontrar um modelo que permita aos proprietários fazerem as obras e também garantir alguma receita. Vamos ver se os próprios músicos o conseguem garantir. Nisso nós podemo-los ajudar. Estou convencido que tudo se irá resolver!”.
Mas não, não se resolveu!
E o presidente da Câmara considerava, nessa altura, o “STOP um património muito importante para a cidade! É ali a fábrica de música do Porto, até é quase que uma indústria, e se é… é uma das últimas indústrias do Porto. Como tal tudo faremos para a preservar.
Não queremos que o STOP morra. Queremos que aquilo fique ali. É um sítio mítico da cidade. É um sítio onde, por exemplo, os meus filhos vão à procura de música. O STOP é um laboratório vivo!”, concluiu Rui Moreira.
ALTERNATIVA: ‘SILO AUTO’

Passados cerca de três anos e em reunião de executivo camarário, realizada na passada segunda-feira (07nov22), e numa proposta de recomendação sobre o futuro do STOP, apresentada pela CDU, que foi chumbada pela maioria, Rui Moreira foi perentório ao referir que “aquele espaço não tem condições de segurança e salubridade para se manter em funcionamento”, estando a autarquia disponível para acolher os músicos em dois pisos do ‘Silo Auto’”.
CDU: “O PORTO NÃO PODE PERDER UM ESPAÇO COM ESTAS CARATERÍSTICAS… SERIA UMA MACHADADA NA VIDA CULTURAL DA CIDADE E DA REGIÃO”

A proposta de recomendação apresentada pela vereadora Ilda Figueiredo (CDU) tinha como objetivo “assegurar o futuro dos músicos no STOP”, que utilizam “um espaço cultural com mais de 500 utilizadores, sendo que mais de 90 por cento são músicos, e que constitui uma mais-valia para o Porto e para o país, constituindo mesmo, como referiu o presidente da câmara, em entrevista, ‘um património muito importante para a cidade. É ali que se encontra a Fábrica da Música do Porto’”.
Para a CDU, e ainda de acordo com a sua proposta de recomendação, “o Porto não pode perder um espaço com estas características, quer pelo impacto negativo que isso teria na vida das pessoas que o utilizam, quer pela machadada que tal representaria na vida cultural da cidade e da região”.
Propondo “continuar a promover todas as diligências para que se encontre uma solução estável para o STOP, visando assegurar a atividade de centenas de pessoas, na sua maioria músicos, que ali trabalham (ensaios, produção, gravações, preparação de espetáculos, etc.), solução essa que poderá passar por, designadamente: tomada de posse administrativa do STOP por parte da Câmara Municipal do Porto e/ou Ministério da Cultura, para garantir a realização de obras mínimas, visando melhorar as condições de segurança e conforto; realizar as obras por piso, assegurando, se necessário, um local alternativo temporário, para que possa continuar a percentagem de atividades afetadas pelas obras; e encontrar uma solução de gestão para o STOP que inclua os representantes dos músicos e que garanta as condições atuais de alojamento, designadamente as rendas”.
“O ENCERRAMENTO DO EDIFÍCIO SERIA TRÁGICO”
Na verdade, hoje, repete-se o que se disse há três anos: o STOP precisa de uma intervenção por questões de segurança. Facto reiterado várias vezes pela Câmara do Porto: “o espaço tem problemas estruturais, que comprometem a segurança do edifício e de quem o frequenta”.
Tendo em conta essa grave situação, a autarquia deu um prazo – até ao dia 6 de novembro de 2022 -, para a apresentação de um projeto de especialidades no processo de licenciamento, tendo em vista a resolução desses mesmos problemas.
Mas, e de acordo com a Associação dos Músicos do STOP, em recentes declarações ao ‘Porto Canal’ -, “esse plano já existe! O problema é que não há verbas para o colocar em prática, uma vez que o espaço é privado e, por isso, os músicos não recebem apoios”.
Ainda ao referido canal televisivo, um músico, frequentador do espaço, disse que o encerramento do edifício seria “trágico” para a vida noturna e para a vida cultural”, acrescentando que “sem muito trabalho, ninguém dá concertos”.
PROJETOS EM ESTUDO
Há três anos, e ao ‘Etc. e Tal”, Carlos Freire, então, administrador do local – onde laborava há cerca de 28 anos -, revelou “que o encontro, realizado, em meados de 2018, com os responsáveis da Câmara Municipal do Porto não foi conclusivo, e que depois de indeferido um primeiro projeto para obras de beneficiação, respeitando as exigências da Autoridade Nacional da Proteção Civil, já se encontra em estudo um segundo projeto, que está a ser efetuado por um Gabinete de Engenharia e ao qual pagamos já cerca de mil euros. Isso revela o nosso interesse em resolver a situação”, realçou Carlos Freire.
Pois muito bem. O que foi feito a esse segundo projeto?
Pelos vistos… nada!
E que futuro a dar ao STOP, se os músicos se transferirem para o Silo Auto, como propôs, Rui Moreira?
Irá ficar aquele (devoluto?!) edifício, ali, a fazer o quê?
Texto: José Gonçalves
Fotos: Mariana Malheiro (registos de há três anos)
08nov22