Ana Costa
Todos temos dias menos fáceis, momentos menos bons e bocados que nos custam a passar. Eu não sou uma exceção e, quando tenho esses momentos em dias de escola, custa-me sempre um bocadinho, porque, como é óbvio, a minha forma de ser e estar influencia sempre os seres pequeninos que encontro logo de manhã.
Claro que quando entro na sala, eles esperam coisas de mim: o bom dia, o beijinho, o abraço, o sorriso, a brincadeira… E nem sempre é assim, nem sempre há vontade para isso tudo.
Tenho tido sorte, na verdade… Para já não é habitual estar muitas vezes mal disposta ou triste, embora os nossos problemas nos afetem sempre… Mas onde tenho tido sorte é com os pequenitos.
Quando entro na sala, ou quando eles entram e eu já lá estou, é-me feita uma radiografia pormenorizada dos pés à cabeça que inclui cabelo, roupa e calçado. Mas inclui também um exame muito específico e pormenorizado, feito através de olhos muito observadores, que levam informações ao coração.
Através dos olhos das crianças, mas sobretudo através do seu coração, eles vêm o que poucos vêm e sentem se estou bem ou menos bem.
Há pouco tempo, estava bastante aborrecida com uma situação que aconteceu com adultos (sim, porque são esses que mais me dão que fazer) e entrei na sala, tentando conter uns impulsos de raiva como acontece nos desenhos animados. Mal entrei, disse bom dia e como é habitual, recebi de volta os meus cumprimentos.
Mas logo a seguir ouvi alguém que perguntou se eu estava bem… Não consegui filtrar… Há quem diga que não se deve contar tudo às crianças sobre o que se passa com os adultos, mas não será bem assim…Pelo menos literalmente. Então estamos juntos cerca de seis horas por dia e eu não lhes devo contar que estou aborrecida? Ah, eu digo! E disse! Disse que me tinha aborrecido com uns adultos sobre uma situação. E eles, imediatamente se levantaram e vieram abraçar-me ao ponto de eu ter de me sentar, senão caímos todos.
Um abraço é um gesto especial e único. Um abraço envolve carinho, dedicação e é exatamente isso que me comove e entusiasma nas crianças.
Não querem saber pormenores, nem nada sobre o que se passou…Sentem que eu não estou bem e querem que eu fique bem, dando-me aquilo que de mais valioso têm, um abraço! E um abraço de uma criança é especial porque é quente e transmite energia boa. E eu sinto essa energia em mim e é dela que me alimento para ter força para o trabalho do dia a dia, e para os outros adultos.
Neste caso fui eu que precisei da energia do abraço, mas muitas vezes acontece o contrário e são os mais pequenos que precisam da minha energia.
Uma ansiedade, uma contrariedade, qualquer coisa que não correu tão bem, eu só sei resolver assim, com um abraço que transmita confiança, segurança e amor.
Nestas situações é muito importante que as crianças sintam que estamos ali para elas e que aquele abraço que damos, lhes dá aquilo que mais precisam naquele momento, e é por isso que não devemos largar. Nunca é o adulto que deve largar o abraço, e sim a criança, que fica abraçada o tempo que precisa para ficar “curada”.
Um abraço é puro, é energia boa que todos precisamos… As crianças podem não saber colocar em palavras o que sentem, ou podem não ter as palavras certas para um determinado momento, mas têm o que sabem que resulta com elas, e se elas se sentem melhor com um abraço, nada como dar-me um a mim, ou vários.
Não consigo imaginar-me com as minhas crianças sem estes momentos de proximidade. Dias sem abraços, sem beijos e sem brincadeiras nem deviam existir. Deviam ser banidos da escola, sobretudo nestas idades.
A energia de um abraço ou de um beijo vale mais do que um medicamento. O abraço faz crescer os nossos sentimentos, a nossa confiança e ajuda a construir relações, liberta a ansiedade e constrói emoções como, a amizade, o conforto.
Costumo dizer que não há melhor lugar no mundo que dentro de um abraço, mas um abraço de braços e mãos quentinhas de uma criança é para mim um lugar especial. Não concebo a construção de uma relação professora – aluno/a sem um abraço sincero que envolva afeto e amor.
Num abraço ganhamos todos, ao mesmo tempo que dou, recebo de volta energia e os dois corações ficam reconfortados.
E eu tenho mesmo muita sorte porque abraço e sou abraçada todos os dias com abraços que me agasalham o coração e me conforta a alma.
Com o abraço de uma criança, o meu coração vibra e fica feliz e quentinho e sorri!
Eu tenho sorte…Tenho abraços todos os dias… E todos os dias dou de mim o que de mais puro tenho, o meu amor transmitido num gesto e em silêncio… E é tão bom!
01mar23
Sigamos com tantos abraços, que acalmam, curam, confortam e recarregam-nos de amor.
Obrigada por mais esta linda partilha, Ana.