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AS IMAGENS QUE REGISTAM, PARA TODO O SEMPRE, A REVOLUÇÃO NO PORTO: ‘OLHARES DE ABRIL’, NA ESTAÇÃO DE S. BENTO, COM… EMOÇÕES ‘MIL’!

Final de tarde de 21 de abril de 2023. Um átrio cheio de gente, num vê se te avias para não perder o comboio que não está paralisado devido à greve… um dos direitos conquistados com a Revolução de Abril, de há 49 anos.

De repente, a Estação de S. Bento, em pleno coração do Porto, paredes meias com as confusas obras do Metro, na Praça de Almeida Garrett – é o progresso minha gente, é o progresso! -, vê um conjunto de pessoas juntar-se, cantando… Sim, cantando!

 

“Vozes ao alto, vozes ao alto
Unidos como os dedos da mão
Havemos de chegar ao fim da estrada
Ao sol desta canção.”

 

Surpresa geral…

Arrepiante!

O que estava a acontecer?

 

 

 

José Gonçalves         Ursula Zangger

(texto)                      (fotos)

 

O que estava a acontecer? Estava, no mínimo, a acontecer arte… arte de intervenção, pelo Coral de Letras da Universidade do Porto.

Aplausos. Muitos aplausos, até de asiáticos e outros estrangeiros, que passavam e tinham acabado de admirar, contemplando e fotografando, os azulejos da estação, da autoria de Jorge Colaço.

Estava, assim, dado o lamiré para a apresentação da exposição fotográfica ‘Olhares de Abril, que você que nos lê, pode visitar até ao próximo dia 24 de maio.

Uma exposição com trabalhos de Bruno Neves, Pereira de Sousa e Ricardo Pereira, que registam os momentos da Revolução do 25 de Abril de 1974, no Porto, aquela que é, por muitos, considerada a ‘cidade da liberdade’.

A iniciativa, que conta com o apoio institucional da Associação 25 de Abril e da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril e da Infraestruturas de Portugal, é organizada pelo CFJ-Centro de Formação de Jornalistas, CRL.

E os jovens organizadores informam: “Esta exposição articula olhares de fotógrafos credenciados que, em 1974, fizeram da luta e da festa de abril o seu foco.  As imagens, captadas em diversos pontos da cidade do Porto, há meio século, falam com eloquência desses dias da ‘revolução dos cravos’”.

Pois, muito bem, e, ei-las, as fotografias, registadas por outra repórter com provas dadas na matéria…

E a curiosidade fez com centenas de pessoas deixassem de lado um pouco da pressa rumo aos transportes. Estava ali algo, para uns de ‘estranho’, para outros, de ‘memórias vivas’ que obrigaram à escapadela de uma lágrima.

“Esta exposição é um momento forte para mostrar a importância do jornalismo na sociedade. O jornalismo permite que haja o oxigénio fundamental para a vida social; o oxigénio que não permita a asfixia da democracia.

Com o 25 de Abril nasceu uma luz completamente diferente da que dominou Portugal durante 48 anos. Quarenta e nove anos passados ainda há muito para fazer…”. Palavras de Luís Humberto Marcos, diretor do Museu Nacional da Imprensa, cofundador da Escola Superior de Jornalismo, entre outros e importantes cargos em diversas instituições nacionais e internacionais.

Oxigénio! O ‘tal’ que a comunicação social e, em particular a fotografia, a imagem, sem censura, tem a obrigação de dar à Democracia… “contra os populismos e outras coisas do género”, como se ouviu.

PEREIRA DE SOUSA:O 25 DE ABRIL AINDA NÃO ESTÁ CUMPRIDO!

E o ‘Etc. e Tal’ ouviu um dos autores dos trabalhos em exposição, Pereira de Sousa, que, a 25 de abril de 1974, ‘colaborava’ na delegação do Porto do jornal ‘A Capital’ – um ‘vespertino – (era publicado em papel, diariamente, à tarde), com sede em… Lisboa.

“Foi um trabalho importante. Mas, neste momento, infelizmente, o 25 de Abril ainda não está cumprido. Antigamente tínhamos mais problemas, mas éramos mais felizes do que o que hoje somos”.

Palavras de Pereira de Sousa, que recorda a revolução do 25 de Abril através, essencialmente, da “contagiante alegria do povo. Foi uma alegria muito grande! Só que as coisas, infelizmente, estão como estão hoje em dia”.

E a verdade, é que ele, mesmo em tempo de ditadura e da enganadora ‘Primavera Marcelista’, nunca sentiu “dificuldades para desenvolver o meu trabalho”, um trabalho representativo de uma arte que, 49 anos depois da Revolução, “está melhor… muito melhor do que estava antes, pelo simples facto de, hoje, termos o digital e não só o analógico. Mas, há mais facilidades e há muita qualidade. Olho para muitas imagens, não conheço grande parte dos autores, mas há muito boas fotografias. Antigamente não era só carregar o botão e depois selecionar… tudo dava mais trabalho; era tudo mais pesado, portanto, não havia a facilidade que há hoje!”

Antevendo o “desaparecimentos dos jornais em papel”, Pereira de Sousa diz que foi um “privilegiado”, e isto “pelo facto de ser um avençado e estar na delegação de um jornal, e não ter, como tinham os profissionais, a obrigação de obedecer a uma agenda diária de serviços. Estava sozinho, o que quer dizer que estava em qualquer lugar onde aconteciam coisas, daí eu ter uma liberdade muito maior que a maior parte dos meus colegas, e isso deu-me a possibilidade de fazer os registos fotográficos que fiz, aquando da chegada das tropas ao Porto. Esse foi um marco histórico, mas a gente só se apercebe disso muito tempo depois. Na altura o que é preciso é fotografar e publicar, mais nada!”

BRUNO NEVES: O REPÓRTER DE ‘ABRIL’

E outro dos grandes senhores da fotografia no Porto r no País, foi o falecido repórter Bruno Neves, que, na inauguração da exposição ‘Olhares de Abril’, esteve representado pela sua filha, Lucinda Neves.

“O meu pai era para estar aqui. O 25 de Abril para o Bruno Neves era qualquer coisa de muito especial. O Bruno Neves era fotógrafo de casamentos e batizados. O 25 de abril foi vivido intensamente! Até que ele deixou a atividade de fotógrafo para se arriscar na reportagem em vários jornais. Fez excelentes trabalhos.

Tenho uma neta que na frase para campa dele, que “ainda não está pronta, que diz: Bruno Neves, pai, avô, amigo e revolucionário. Essa era a imagem que ele queria que ficasse”. Tudo dito.

Bruno Neves (foto Diário de Notícias)

De salientar que Bruno Neves – falecido no passado dia 26 de janeiro e natural das Fontinhas, na portuense freguesia do Bonfim – iniciou a sua carreira como repórter fotográfico profissional aos 38 anos, após a cobertura que fez do 25 de Abril de 1974. Antes disso, era colaborador do diário ‘A Capital’.

Entrou para os quadros de ‘O Primeiro de Janeiro’ e seguiu-se uma extensa lista de colaborações nos jornais ‘Norte Desportivo’, ‘República’, ‘Diário de Lisboa’, ‘Expresso’, ‘O Jornal’, ‘Sete’, ‘Diário’, ‘Norte Popular’ e na Agência ANOP. Foi em 1982 que passou a editor fotográfico do jornal ‘O Jogo’.

DESPEDIDA COM ‘GRÂNDOLA’

E depois de uma saudação ao povo “libertador” do Porto, por parte de um dos capitães de Abril, na Invicta, o, hoje, tenente-coronel Boaventura Ferreira; da notada ausência de Ricardo Pereira – outro dos autores com trabalhos expostos nesta mostra – e de a organização informar que ‘dada a extensão da exposição ‘Olhares de Abril’, a mostra terá um núcleo no Instituto Multimédia-Escola Profissional, na Rua das Taipas, em pleno Porto-Património Mundial, e também um prolongamento na Universidade da Maia. Esta exposição integra-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril’…

…eis que o Coral de Letras da Universidade do Porto, voltou a surpreender todos os presentes, desta feita, com a ‘Grândola’… a “Grândola, Vila Morena… terra da fraternidade, o Povo é quem mais ordena; dentro de ti, ó cidade”…

Emocionante!

25 de Abril… sempre!

 

 

21abr23

 

 

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