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A magia das crianças

Ana Costa   

 

As crianças têm uma forma própria de interagir e de se relacionarem umas com as outras. É através das brincadeiras que as crianças aprendem a ser crianças e se preparam para ser adultos, sendo uma atividade fundamental para o seu desenvolvimento.

Quando as crianças brincam, estão a explorar o mundo que as rodeia, construindo relacionamentos e desenvolvendo habilidades sociais e emocionais. É brincando que os mais pequenos expressam as suas emoções, ainda que, por vezes de forma muito intensa.

Nestes bocadinhos de criação infantil, as crianças zangam-se, aborrecem-se ou ficam frustradas, gritam, riem e são felizes. Tudo com pequenos intervalos de diferença, o que muito confunde o pensamento dos adultos.

Estas emoções das crianças são sempre manifestadas de forma intensa e muitas vezes, em decibéis bastante elevados. Mas enquanto estão felizes, os adultos também estão. O problema é quando algo não sai como eles esperam e tudo vai ao expoente (quase) máximo. Mas as crianças têm uma forma de estar na vida, têm uma forma de ver a vida muito diferente da dos adultos e por isso, todas estas emoções equivalem, mais ou menos, a um fim do mundo momentâneo, ou até vários fins de mundo, só que depois afinal não. Como tal, as crianças zangam-se a sério, fazendo ‘ultimatun’s e grandes ameaças uns aos outros. As crianças não vêm com filtros, isso é uma aquisição das experiências da vida e por isso, dizem (quase) o que lhes apetece sem pensar.

A grande diferença é que as crianças têm uma incrível capacidade de se reconciliar rapidamente, pois anda têm uma resiliência emocional natural, que lhes permite perdoar e esquecer com facilidade, o que só demonstra que as crianças sabem o que a vida tem de melhor e por isso dão prioridade à diversão e à amizade, pondo de lado os desentendimentos e os conflitos.

Um recreio, por exemplo, é um laboratório do quotidiano infantil, onde os pequenos conflitos, que fazem parte do crescimento, são apenas oportunidades para aprenderem a resolver e a lidar com os seus problemas. Claro que todas as emoções resultantes destes momentos são intensas, mas são genuínas, são o verdadeiro sentir naquele momento e não podem nunca ser ignoradas ou reprimidas pelos adultos, muito pelo contrário, as crianças devem ser ouvidas e entendidas.

E é aqui que o papel dos adultos se torna importante, não nas brincadeiras, mas sobretudo quando há desentendimentos entre as crianças. É fundamental que os crescidos se recordem de quando foram mais novos e se saibam colocar no lugar destas, não para antecipar situações, mas para entender a sua perspetiva e incentivar a comunicação, a empatia e sobretudo a negociação, como forma de lidar com estas zangas tão habituais.

Aprendi com o meu amigo Berto, já há muitos anos, que quando os adultos se “metem” é sempre pior, e é mesmo verdade, porque os adultos têm a sua própria perspetiva das brincadeiras, e quando um pequeno está triste porque não o deixaram brincar, ou até porque foi empurrado, tendem a ver a situação só de um lado, achando que há uma situação de inferioridade, que pode até persistir e tornar-se numa coisa pior.

E pode de facto, por isso é preciso estar atento, mas aconselhar uma criança a defender-se, atacando, para além de agudizar ou acentuar uma situação que no dia seguinte já terá sido esquecida e os crescidos perdem uma ótima oportunidade de ensinar habilidades e capacidades de resolução de conflitos de forma mais saudável.

Óbvio que não estou a falar sobre situações repetidas e desagradáveis, em que sim, é necessária a intervenção de um adulto, ou até mais que um…

Sei de situações que aconteceram entre crianças, onde as Mães até hoje não se falam e os filhos voltaram a ser amigos, tentando ensinar aos adultos que este é um mundo de Paz.

Os momentos de convivência entre crianças e as suas brincadeiras são um terreno fértil para o seu desenvolvimento e nesta linha, os recreios funcionam como laboratórios sociais, onde apesar de haver desentendimentos, também existe rapidez na reconciliação, o vulgar “fazer as pazes”, mostrando valores básicos da vida, como a amizade e o divertimento.

Quando as crianças brincam ensaiam situações futuras que as preparam para a vida. Há escolas que, por exemplo, praticam recreios orientados, ou seja, as crianças não brincam ao que querem, nem com querem… “Brincam” segundo as indicações dos professores e educadores… Que coisa horrível! Sou absolutamente contra! Onde fica o imaginário infantil dessa forma?

Brincar é saudável, mas mesmo que haja desentendimentos, choro, dizer coisas más…

Só posso pensar na célebre frase “Deixai vir a mim os pequeninos…” porque eles são puros e bondosos… Como todos os crescidos deveriam ser! É assim que quero pensar este Mundo, como as crianças o veem… Zango-me, digo o que penso, mas depois fica tudo bem! E em Paz!

 

01jun21

 

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