Decorreu no dia 16 de junho na Escola Secundária José Macedo Fragateiro com o apoio da Direção do Agrupamento de Escolas de Ovar (AEO) a apresentação do livro ‘Cidadãos de Ouro’ do médico Valdemar Correia Gomes.
José Lopes
(texto e fotos)
A sessão foi apresentada pelo diretor do AEO, Francisco Bernardo, com palavras de reconhecimento pela temática abordada, que começou por contar com a participação de dois alunos do Centro de Apoio à Aprendizagem (CAA) da Escola EB 2.º Ciclo António Dias Simões, para a leitura de poemas de Luísa Ducla Soares, como ‘Livro por Letícia’, e ‘A união faz a força’ por Nazari, acompanhados pelo docente Nuno Bento.
Seguiram-se as intervenções dos convidados que integraram a mesa, como José Lopes, assistente operacional (educação), autor do prefácio do livro a quem foi confiada a apresentação (*), agradecendo a todos os presentes, “que se dignaram corresponder ao convite da direção do Agrupamento de Escolas de Ovar que apadrinhou com entusiasmo esta iniciativa de apresentação do livro na escola sede, Escola Secundária José Macedo Fragateiro, a quem também gostaria de agradecer a sua disponibilidade para engrandecer o livro e este momento”, a exemplo de um exercício de cidadania cumprido em meio escolar.
O padre Augusto Farias que colaborou igualmente com um artigo ‘Todos somos importantes’, falou sobre “Espiritualidade na inclusão”. Já Diogo Gomes a quem seu pai Valdemar Correia Gomes dedica o livro ‘Cidadãos de Ouro’, deu o seu exemplo de inclusão, com o tema ‘Dar a palavra à cidadania da diferença’, na linha do texto ‘Dar a palavra a um cidadão’ que assina neste mesmo livro. Das palavras do autor de ‘Cidadãos de Ouro’, Valdemar Gomes, ficaram algumas sínteses sobre abordagens “da exclusão total à inclusão – evolução civilizacional da humanidade…”.
Por fim, Teresa Coelho, docente representante do Ministério da Educação, na Equipa Regional do Centro para a Autonomia e Flexibilidade Curricular, sediada no centro de formação CFIEMO, encerrou a sessão com uma ‘contextualização da Educação Inclusiva em Portugal’, e respetiva valorização pelo Estado Português, salientando “a importância da Formação dos docentes e não docentes, nestes princípios e na noção de que a Educação Inclusiva, é a valorização da diferença na diversidade”.
Estes foram alguns dos contributos a propósito do livro em que o autor afirma, que, a inclusão de cidadãos portadores de deficiência, é “uma luta constante”, referindo ainda que, “o processo inclusivo impõe-se a todas as faixas etárias, porque em cada uma destas, há particularidades que exigem apoios distintos quer de instituições, quer de políticas estruturais e educacionais (…) segundo os princípios civilizacionais”.
Valdemar Correia Gomes, nasceu em Tarei, Santa Maria da Feira, a 20 de janeiro de 1959. Formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (1979/85). Fez Internato Geral no Hospital de Santo António, Porto (1986/88). Médico do Hospital Dr. Francisco Zagalo, Ovar, desde 1987. Na especialidade de Estomatologia exerceu no Hospital de Aveiro (1992/1996). Em diferentes hospitais fez estágios parcelares em várias especialidades, como: ORL – Otorrinolaringologia; Cirurgia Maxilo – facial; Anatomia Patológica; Cirurgia da Cabeça e Pescoço. Assim como pós – graduações em: Medicina da dor crónica; Hidrologia e Climatologia; Cirurgia – Implantalogia; Prótese sobre implantes ou Ortodontia, entre outras.
-.-.-
Nota de José Lopes
O livro ‘Cidadãos de Ouro’ que o Dr. Valdemar Correia Gomes me deu o privilégio de prefaciar, sendo um importante trabalho de investigação, que pode despertar inevitáveis diferentes pontos de vista sobre uma temática em que o autor está, natural e assumidamente familiarizado, dedicando mais este livro, a exemplo de outros títulos, como ‘O amor não conta cromossomas’ (2013) ou ‘Filhos do Mundo’ (2018), ao seu filho Diogo, porque como afirma, “ele é o símbolo do amor incondicional e sem traições.” Ou ‘Um hino ao amor’, como se lhe dirige a mãe, professora Maria Teresa Silva Lopes, que deixa o testemunho, de que “Ter um filho especial tem sido uma experiência em constante crescimento e enriquecimento”, porque “amor não conta cromossomas”.
Nesta relação familiar com o tema da diferença, dedicado igualmente a “todos os cidadãos especiais que de uma forma ou doutra são segregados e excluídos do bem social.” O livro é também um testemunho retropectivo da longa caminhada no processo de inclusão, desde logo em meio escolar.
Ainda que, com todas as reconhecidas adversidades que vão marcando cada ano letivo, tanto em falta de recursos humanos ou espaços próprios com meios e equipamentos adequados ao desenvolvimento do trabalho especializado com alunos – Necessidades Educativas Especiais (NEE).
São possíveis destacar vários exemplos em comunidades escolares, como os que se vivenciam em Centros de Apoio à Aprendizagem (CAA), em que tenho igualmente o privilégio de destacar o CAA da Escola EB 2.º Ciclo António Dias Simões, independentemente do sucessivo caracter precário e provisório das suas instalações, em que naturalmente e por motivos profissionais, como assistente operacional, estou mais próximo e admiro o profissionalismo, a paixão e dedicação dos professores, técnicos terapeutas e assistentes operacionais, que trabalham, vivem e envolvem a comunidade na luta diária da inclusão, através de iniciativas concretas que tornam sonhos realidade, incluindo numa mais natural e consequente transição entre ciclos.
São vários os exemplos de estratégias e metodologias de trabalho inovadoras, com as crianças e jovens NEE, que nos permitem ter mais esperança na efetiva inclusão da diferença, neste caso, na escola pública democrática em que indiscutivelmente muito continua por fazer e investir pelas entidades competentes na própria implementação da legislação existente, para que os CAA correspondam e atinjam de forma coerente os objetivos da sua missão.
Nesta longa caminhada para sabermos lidar com a diferença em meio escolar, contra a discriminação, que o livro ‘Cidadãos de Ouro’ inevitavelmente nos trás à memória nas mais diversificadas vertentes do respeito pela diferença. Há vivências e experiencias pessoais, profissionais e familiares, que muitas vezes marcaram negativamente os vários intervenientes, apesar de toda a entrega profissional ou até voluntarista em vários elementos das comunidades escolares, para, mesmo dependendo da sensibilização e humanização das equipas, tão decisivas ao longo das últimas décadas na construção do caminho que nos chegou até hoje.
Podemos reconhecer, que, ainda que, em sacrifício de várias gerações com respostas limitadas, estamos a construir um novo caminho em que todos somos fundamentais. Escola e sociedade, com particular relevância para o suporte familiar, que está muito na base do trabalho aqui apresentado em livro.
De muitas das memórias, pra as quais algumas das abordagens do livro nos remetem, retemos (eu reti, na então EB 2,3 António Dias Simões) o percurso escolar do Diogo Gomes, que participa nesta obra que lhe é apaixonadamente dedicada, como um testemunho, de que, “Passo a passo trilhamos caminhos difíceis, / Mas barreiras foram derrubando, / Hoje provamos ao mundo que / Superamos e vencemos.” (“Um hino ao amor… da sua Mãe). Ou como afirma o seu Pai, “Um filho de ouro, com deficiência, não se oculta das pessoas e do mundo, devemos deixar transparecer a sua alegria e humanidade contagiante.”
Porque, como acrescenta, “o mundo seria mais pobre e mais egoísta. São diferentes, singulares e especiais e nestas diferenças demonstram a sua grandeza como seres humanos…”.
Mas retemos certamente também vários outros alunos NEE (a sigla que a evolução dos tempos e da legislação deixou de certa forma cair em desuso) a quem faltou o referido suporte familiar e eventualmente da sociedade, para a continuação do caminho iniciado na escola com o profissionalismo ou mesmo voluntarismo solidário, partilhando a oportunidade destes alunos vivenciarem uma inclusão ainda pouco assumida em épocas que felizmente vão ficando bem longe da falta de sensibilidade nas politicas educativas, que hoje se vão fazendo sentir particularmente nos critérios economicistas para se reconhecer as necessidades a vários apoio terapêuticos complementares ao trabalho desenvolvido na escola pública por equipas multidisciplinares insuficientes.
Este livro, em que o Dr. Valdemar nos apresenta um conjunto de interessantes abordagens sobre a relação com a “diferença”, trás ainda à memória, vivências concretas que nos despertam e questionam para os difíceis obstáculos que foram surgindo no caminho de vários jovens pós conclusão do seu percurso escolar. Obstáculos com que se vêm debatendo os alunos entretanto adultos, sem a necessária base de apoio familiar e da sociedade, com todas as suas consequências na inclusão social, laboral e familiar.
São pois alguns destes sinais, nestes tempos de preocupante intolerância, da necessária evolução civilizacional contra a descriminação na inclusão e o preconceito e aceitação das diferenças, que, contra qualquer tipo de retrocesso civilizacional ou negacionista, a sociedade e as comunidades escolares mostram estar disponíveis a contrariar, numa luta diária, agora nos CAA com a reconhecida e privilegiada participação dos pais e encarregados de educação, como base fundamental de suporte familiar, que não deixem ninguém para trás.
Porque, sendo certo que ainda vão ficando pessoas para trás, são ricas as experiencias que dignificam o trabalho desenvolvido na escola, numa luta sem tréguas para resgatar todos e todas da indiferença. Porque, como concluo no texto do prefácio a este livro, através das palavras do próprio autor de ‘Cidadãos de Ouro’.
“Para se criar um sistema educativo inclusivo, não basta mudar a escola. A escola é um sistema permeável não só às orientações legislativas, como também aos valores sociais e culturais dominantes na sociedade”. É primordial mudar a sociedade, “tornando-a mais humana, tolerante e solidária (…)”.
Neste âmbito não resisto a aproveitar este momento para saudar através dos professores Nuno Bento e Carlos Ferreira do CAA da EB 2.º Ciclo António Dias Simões, com quem mais convivo, todas as equipas de docentes, terapeutas e assistentes operacionais que nos vários CAA quer do Agrupamento de Escolas de Ovar quer das restantes comunidades escolares, que dão mais esperança num caminho de felicidade e integração destes ‘Cidadãos de Ouro’ que hoje aqui nos brindaram com a participação da Letícia (5.º D) e do Nazari (6.º I).
Ao Dr. Valdemar agradeço ter-me confiado o privilégio de escrever o prefácio do livro que aqui se apresenta, e saúdo o seu empenho e dedicação à causa de “olhar as diferenças com elevação…”
José Lopes
Assistente operacional (educação)
16jun23
05jul23