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Carla Ribeiro: “Os sem-abrigo têm de ser tratados como pessoas, mas há quem os trate como bichos!”

 

Carla Maria Cardoso Ribeiro, tripeira de Paranhos, é uma das mentoras do “Estamos Aqui…” um projeto solidário que, ela própria, dará a conhecer na entrevista que se segue. Amante do diálogo com quem dele mais necessita, Carla é o exemplo de uma vida vivida com algumas dificuldades “técnicas”, mas sempre pronta a ajudar os outros e, neste caso específico, os seus “Amigos de Rua… os sem-abrigo.

É mulher que não para. Uma mulher “pronta a chegar aos corações, ao sentimento. O “Estamos Aqui…” é o seu projeto, e nele está envolvida de corpo e alma desde outubro do ano passado, e já com obre digna de registo. A ler…

 

Quem é a Carla Ribeiro?

“A Carla tem 41 anos e, a dada altura, resolveu fazer voluntariado, depois de várias experiências, já na altura da adolescência com um grupo que dava apoia aos jovens que estavam na Tutoria, aqui no Porto. As raparigas iam para um lado, e os rapazes para outro, e conversávamos um pouco com eles. Isso aconteceu quando eu tinha os meus 16/17 anos.”

 

Ainda havia essa divisão?

“Ainda havia essa divisão. Era muito difícil fazermos algumas atividades com a junção dos dois grupos, devido aos condicionalismos de juntar rapazes com raparigas. Na altura do Natal, conseguíamos que, os que ficavam na Tutoria fossem passar a quadra a nossas casas, ficávamos, assim, responsáveis por eles durante esse período. Às vezes corria bem, outras vezes…não”.

 

Estranha essa “divisão” mesmo depois do 25 de abril. Em democracia! O que é que constatou nessa altura?

“Havia muito medo dos miúdos e das miúdas em falar connosco. Isso era uma coisa que nós notávamos. Eram jovens com 11/12 anos já com um percurso de vida surpreendente – que para nós era inimaginável pelo seu aspeto negativo – e notávamos muito medo no diálogo que eles tinham connosco, porque a seguir seriam, presumivelmente, alvos de alguns castigos por parte dos coordenadores. Havia miúdas que nos diziam que fugiam da instituição, sabendo que depois seriam castigadas, só para, pelo menos – e de acordo com um caso – passar o dia na praia. A alegria da fuga compensava mais que o castigo.

Foi interessante perceber como é que uma miúda de treze anos ter saltado o muro, com vidros, arriscando a sua própria vida. Mas ela conseguiu ir para a praia, foi de Matosinhos até Vila do Conde pela orla marítima, ia comendo daquilo que as pessoas lhe davam, e foi brincando com outras crianças. Quando ela contou isto quase que como se esqueceu do castigo que a seguir foi sujeita.”

 

Isto “só” há vinte anos atrás?! E isto, repito, já no Portugal democrático!

“Há vinte anos atrás, é verdade! Para mim foi uma vivência, uma experiência, muito grande. Acho que foi a primeira alavanca que me marcou verdadeiramente quanto a uma realidade que eu desconhecia. A vivência com estes jovens na Tutoria foi bastante enriquecedora, já que, ao fim de algum tempo, tirou-se dessa riqueza algo de importante para o futuro. Pena foi que, depois, nos tenham barrado o caminho de acesso ao estabelecimento, ao ponto de termos de abandonar o projeto.”

 

Mas, por quê?

“Porque nós quisemos ajudar aqueles jovens e, assim, começaram a criar barreiras para, no fundo, a eles não termos acesso.”

 

Barreiras?!

“Sim. Não sei o porquê. Na altura, ouvia-se a falar de tanta coisa que, hoje, é difícil avaliar o que na realidade aconteceu.”

convidado 03 - 01fev13

Experiências solidárias

 

Com o passar do tempo…

“Com o passar do tempo foi quase que rever nos “meus” sem-abrigo algumas das histórias e alguns dos percursos. Entretanto, fiz parte da Juventude da Cruz Vermelha, porque lá trabalhei algum tempo nos projetos da Ocupação dos Tempos Livres, durante as férias escolares. Depois, acabei, ainda por lá, por fazer trabalho de apoio a idosos, aos médicos e ao serviço de ambulâncias. Tinha, na altura, já 19/20 anos. Eu ainda me mantinha no meu grupo de jovens, mas conseguia articular as duas funções.

Mais tarde, tive de deixar o grupo da Cruz Vermelha e optei por manter o meu grupo de jovens.”

 

Grupo de jovens?!

“Sim, grupo de jovens franciscanos e nesse grupo é que dávamos o tal apoio à Tutoria. Tive aí uma base de crescimento. Éramos vários jovens, praticamente, da mesma idade. Tínhamos várias atividades. Fazíamos imensas coisas. Tínhamos várias parcerias. Tínhamos encontros nacionais da Juventude Franciscana… essa parte foi mais ligada à religião católica.

Depois casei e desliguei-me da Juventude Franciscana, porque não fazia o mínimo sentido lá continuar. Houve, então, um percurso longo em que nada fiz em termos de apoio social, tudo para me dedicar mais à família.”

 

“Estamos Aqui…”

 

Até que algo volta, como que, a chamá-la?!

“Há sempre um bichinho que fica. Eu, nesse período, fui adiando porque não tinha tempo. Até que a PT, onde trabalho, desenvolveu uma parceria com uma instituição para fazer rondas noturnas junto dos sem-abrigo. Então, optei por experimentar, porque nunca tinha estado, diretamente, a lidar com sem-abrigo, e achei que talvez seria uma área na qual poderia explorar experimentando.”

 

E qual foi o primeiro impacto?

“Foi fazer a primeira ronda, em 2010, através de uma instituição e cheguei a casa dizendo: “até pensei que isto ia ser pior!” (risos). Foi engraçado porque fiquei, completamente, desconsolada, porque pensei que a coisa seria muito mais grave… que ia ver uma realidade mais “dura”…

 

E qual era a instituição?

“Prefiro não dizer. Não vale a pena! Depois, fui fazendo mais ações de rua, tendo uma noção mais real daquilo que se passava!”

 

Até que surge o “Estamos Aqui…”

“O “Estamos Aqui…” nasce porque, ao fim de algum tempo, e depois de ter criado laços de amizade com as pessoas, foi ficando, ao final de várias rondas, uma ligação mais direta com um dos elementos que também fazia parte da equipa…

 

…quem?

“O Marco Gonçalves. Ele e eu, um dia, ao telefone às oito e meia da noite falámos sobre a última ronda. Estávamos chateados porque alguém nos tinha chamado à atenção por não gostarem que acabássemos as rondas às oito da manhã, já que achavam que a partir das três horas, os sem-abrigo não tinham fome! O que é uma mentira! Uma grande mentira! O sem-abrigo come quando lhe dão de comer e quando tem comida. A dada altura percebo, então, que nós os dois estávamos a caminhar para a construção de um novo projeto. Assim sendo, o “Estamos Aqui…” nasce às oito e meia da noite de três de outubro de 2012.”

convidado 04 - 01fev13

“Não aceitamos donativos em dinheiro, nem temos nenhuma instituição por trás”

 

A partir daí…

“A partir daí foi o desenvolver do projeto; foi o criar o nome; foi criar o Facebook ; foi criar uma imagem para o grupo e convidar pessoas que viessem juntar-se a nós, de modo a fazerem parte do núcleo base e, assim, criarmos estruturas e para podermos estar na rua.”

 

E qual foi a recetividade?

“Foi, e é, muito grande, principalmente quando dizemos que não aceitamos donativos em dinheiro e, depois, não temos nenhuma instituição por trás de nós. Somos um grupo de pessoas que está na rua pelos nossos sem-abrigo a quem chamamos “ amigos de rua”.

 

Hoje, há dezenas de instituições do género espalhadas pelo país, facto que tem originado alguma desconfiança por parte da população quanto aos concretos objetivos para as quais foram criadas.

“Sim, há muitas instituições, que se calhar estão todas mal coordenadas. Se todas estivessem devidamente coordenadas poderiam fazer um trabalho melhor que o que se fazem. Primeiro porque, e infelizmente, o sem-abrigo tem de comer todos os dias. Nós ainda não temos capacidade para o fazer semanalmente, mas acredito que há outros grupos que a têm e não o fazem.”

 

Pois, há instituições aqui no Porto, e só referenciando algumas, como a Legião da Boa Vontade, AMI, Coração da Cidade e etc e tal. Pelo que já se costuma dizer que só passa fome quem quer…

“Eu não digo isso! A realidade da rua é diferente!”

 

“Não trabalhamos com números. Trabalhamos com pessoas!”

 

Mas eles também não querem sair da rua, digo-o com experiência depois de ter acompanhado uma dessas jornadas.

“Temos vários tipos de pessoas na rua. Se virmos a base dos problemas que tiram as pessoas para a rua, noventa por cento tem origem em problemas familiares. Foi a família que os atirou para a rua! Outros caem na rua por droga, álcool, prostituição ou por outros motivos. Temos ainda outras situações: famílias completas que acabam por perder o emprego, vai tudo desmoronando-se, e acabam por ficar na rua. Essas pessoas – quando está o nicho completo – geralmente é fácil voltar a coloca-los em algum local e restrutura-los. Quando é uma pessoa sozinha, ela prefere ficar na rua, e não quer cumprir regras…”.

 

Não há apoio psicológico neste trabalho?

“O “Estamos Aqui…” não sai para a rua com a ideia de atender cinquenta ou 120 pessoas. Nós não trabalhamos com números, trabalhamos com pessoas!”.

 

Mas, não levam nenhum psicólogo?

“Não levamos nenhum psicólogo! Somos um grupo de amigos…

 

Nada tem contra os psicólogos?!

“Nada, nada! Aliás, se algum psicólogo nos quiser acompanhar será sempre bem vindo. No Facebook abrimos a nossa página há pouco tempo ( http://facebook.com/estamos.aqui.2012 ) e, consequentemente, o convite às pessoas para poderem acompanhar o nosso trabalho; para nos contactarem e para virem connosco. E a recetividade foi muito positiva, tanto mais que, hoje, temos uma escala com quatro elementos base e depois a possibilidade de levar mais três elementos connosco”.

convidado 05 - 01fev13

Solidariedade(s)

 

Recorrem ao Banco Alimentar?

“Não! Nós temos dois restaurantes que nos fornecem a sopa nos dias em que fazemos as ações: o “Castelões”, na rua de Álvaro Castelões, aqui no Porto, e o “Colherada”, na “Macro” de Gaia.”

 

E o transporte?

“Temos uma carrinha cedida por um dos elementos. E depois, uma coisa fantástica, que aconteceu na véspera de uma das nossas ações de rua. Na altura, não tínhamos pão para levar para os nossos amigos de rua. Fiz, então, um apelo no Facebook e, por volta da uma e meia da manhã, houve um senhor que nos respondeu para o contactarmos, uma vez que tinha padarias e, facilmente, nos poderia fornecer o… pão!

Com o contacto dessa pessoa, peguei no telefone, liguei e perguntei-lhe: “Quantos pães nos pode arranjar? Só precisava de cinquenta! Como é que vamos fazer?” E ele diz-nos que a padaria é em Santa Maria da Feira. Era longe, mas o senhor tinha demonstrado muita disponibilidade e nós não podíamos, de forma alguma, recusar essa solidariedade. E num sábado à tarde, lá fomos a Santa Maria da Feira, trouxemos os cinquenta pães e quatro ou cinco caixas com bolos.”

 

Você vive isto!

“Vivo isto!”

 

Quando contacta, diretamente, com um sem-abrigo, qual é o impacto… a sua reação?

“É sair da carrinha sempre a sorrir!”

 

Mesmo quando aparece um desconhecido?

“Sim! Geralmente, nós abordamos essa pessoa com alegria. Se atuasse com cara embrulhada, o melhor seria ficar em casa. E o engraçado é que eles já nos vão conhecendo pela nossa boa disposição. Repare: o sair com sorriso já é uma porta de entrada para com eles estabelecer um contacto direto.”

 

As pessoas não são todas iguais.

“Sim, mas, até hoje, nunca tive problema no contacto com qualquer pessoa”.

convidado 06 - 01fev13

“Nunca seremos uma associação com fins lucrativos!”

 

Tendo em conta o previsto agravar da austeridade em Portugal no decorrer do presente ano, o “Estamos Aqui…” está pronto para dar resposta a um maior número de pedidos de ajuda?

“O “Estamos Aqui…” continuará a ser um grupo que desenvolverá a sua ação ao encontro dos “amigos de rua”, com o objetivo de falar com eles, perceber as suas necessidades e ver onde é que os podemos ajudar.”

 

Há uma estrutura a ser montada?

“Sim. Nós não somos nenhuma instituição, não somos nenhuma associação… somos, repito, um grupo de amigos. No entanto, estamos a pensar se iremos, ou não, constituir-nos em associação, talvez por assim possaser mais fácil ter o apoio das empresas. Nunca será uma associação com fins lucrativos. Nós nunca vamos aceitar donativos, ou qualquer tipo de dádiva em dinheiro. Vamos trabalhar sempre com parcerias. Temos os dois restaurantes que nos estão a fornecer sopa e ainda duas padarias – a “Lucimel”, em Santa Maria da Feira, e “Dompastel”, que é aqui do Porto.”

 

Qual o universo de pessoas que abrangem através da vossa ação?

“Não sei ao certo lhe dizer, porque não as contabilizamos. Mas, assim de uma forma geral, conseguimos, em cada ação de rua, falar com cerca de cinquenta pessoas. A prioridade é falar com as pessoas, só, posteriormente, é que lhes perguntamos se querem alguma coisa para comer. Aí temos sempre sopa, leite com chocolate e café. Tudo quente!”

 

Quais são as zonas onde têm vindo a intervir?

“Essencialmente na zona da baixa da cidade do Porto, onde existem vários nichos: pessoas isoladas, ou então, três a quatro pessoas juntas. É uma zona que conhecemos, isto pelo facto de já termos colaborado com outras instituições. Assim fomos associando locais e estamos, neste momento, a dar apoio a sem-abrigo em locais que sabemos que, pelos quais, não passa outra instituição.”

 

“O “Estamos Aqui…” é um filho nosso, ao qual lhe demos pernas e agora caminho”

 

E depois é o “tal” contacto.

Sim, Se tivermos de estar uma hora com eles… estamos uma hora! Eles querem é falar connosco! O resto do grupo respeita a necessidade dessa pessoa e vai interagindo com as outras, enquanto estou a falar com um dos elementos.”

 

A sua família aceitou esta atividade?

“Quando as pessoas tomam uma decisão destas têm de ter coragem, muita sensibilidade, e, depois, o tal apoio da família. Se não tivesse apoio dos meus pais e do meu filho, não teria conseguido abraçar este projeto da forma que abracei, criando o que já se criou, e, principalmente em outubro do ano passado, em que todos os membros do “Estamos Aqui…” puseram a máquina funcionar”.

 

E neste momento “Estamos Aqui…”

“É “Estamos Aqui…”. De momento tenho quatro elementos base. O projeto nasceu da cabeça do Marco, ao qual dei logo apoio, partindo para a rua quase de imediato. Portanto, temos uma capacidade de articulação bastante grande, o que é engraçado. Estamos muito sintonizados!

No Natal, por exemplo, tivemos uma ação com a presença, excecional de 12 voluntários, e eu lembrei-me de irmos para a rua com gorros de Pai Natal, pelo menos, para alegrar e dar algo de diferente às pessoas. Dito e feito! Ainda antes de sair para a rua os gorros já estavam encomendados por um membro do grupo. Bastou ter a ideia. No fundo, este projeto é um filho nosso, não biológico, mas a quem resolvemos dar pernas e que agora queremos dar-lhe caminho.”

 

“Há sítios que não queremos ir por questões de segurança!”

 

E onde se encontra o “berço” do filho?

“O “berço”, ou seja, as instalações que nós usamos para preparar as coisas, é em casa de um nosso colega, porque ainda não temos sede própria. Com o tempo, esperamos ter o nosso próprio local. Repare que começamos em outubro – logo com duas ações de rua -, estamos em janeiro, e com o evoluir do projeto vamos conseguir esse objetivo”.

 

A zona oriental do Porto, que é socialmente, muito carenciada, tem merecido, por parte do “Estamos Aqui”, alguma atenção especial?

“Há vários nichos que não conseguimos abranger. Como também há sítios que não queremos ir por questões de segurança. São locais bastante problemáticos! No entanto, há áreas, ou zonas, em que há pessoas que precisam de apoio”.

 

As pessoas que abordam se calhar não são tão más quanto aquilo que se pode pensar, o pior é o que vem a seguir?!

“Até hoje nunca tive problemas quanto a abordagens. Às vezes, os nossos amigos de rua são um bocadinho rígidos quando falam connosco, mas só num primeiro impacto, e isto porque a vida também os magoou, assim como atitudes menos corretas de outras instituições. Eles têm de ser respeitados como pessoas, e há quem os trate como bichos. A partir do momento que eles me respeitem tudo bem, quando assim não acontece…acabou!”

convidado 00 logo - 01fev13

Santa Maria da Feira e Lisboa os próximos “Aqui” do “Estamos”

 

E o “Estamos Aqui…” só vai estar aqui, no Porto?

“Neste momento estamos no Porto. Em termos de orgânica ainda não temos os apoios que necessitávamos para percorrer um caminho mais vasto. Nós, de momento. tentamos levar a sopa e o pão, que já falei, e mais pães com alguma coisa mais: com compota de abobora e com marmelada. Levamos também um pacote de bolachas, que é uma coisa que eles comem com bastante facilidade, e tentamos, ainda, levar fruta. Estamos também a tentar fazer recolha de roupa. Nesta altura, temos uma grande necessidade de arranjar cobertores e também caixas de cartão, o que estamos a tentar em algumas lojas.

Quanto à sua pergunta, em concreto. Primeiro, queremos reunir todas as condições essenciais e estáveis aqui no Porto, e depois, até porque vamos todas as semanas a Santa Maria da Feira – é já para nós um local que deveríamos reconhecer – vamos, por lá, tentar fazer um trabalho de campo numa das próximas ações quando lá formos buscar pão. Nessa altura,  iremos contactar a Polícia e outras instituições, batendo, por assim dizer, o centro da cidade, tentando perceber se ali há necessidade para intervirmos.”

 

E depois?

“Depois a nossa ação poderá estender-se a Lisboa, até porque que um dos nossos colegas lá reside”.

 

O importante papel das autarquias

 

E haverá, com certeza, muitos outros sem-abrigo por todo o país.

“Por qualquer localidade! Como, por exemplo, temos aqui no Porto, não só os sem-abrigo, mas também pessoas que estão dentro de casa que vão tendo um teto para dormir, mas já não têm muito para comer. É a tal pobreza envergonhada.

O “Estamos Aqui…” está a tentar entrar por essa área, tendo conhecimento da realidade dos filhos dos nossos colegas nas escolas. Estamos, no fundo, a tentar fazer um apanhado para avaliar a situação”.

 

Aí, o “Estamos Aqui…” tem de lá estar com o apoio das autarquias.

“Sim. Já fiz, por exemplo, uma articulação com a minha junta de freguesia, a de Paranhos, pedindo-lhes que me dessem indicações dos locais que pudessem conhecer e onde se encontrassem sem-abrigo. Soube, então, que eles estavam a dar apoio a aluinos de certas escolas. Então, abordei o caso dos sem-abrigo e depois de vários contactos eles deram-me a conhecer alguns locais que, por acaso, nós já conhecíamos. Agora, vamos contactar a PSP do Bom Pastor para ver se eles têm mais indicações”.

 

E depois aparece o Biodanza…O que é isso do Biodanza? Não se alongue muito em explicações porque, brevemente, vamos ter nesta coluna a responsável por essa curiosa atividade.

“Comecei a biodanza em 2012. Biodanza é uma coisa muito gira. É uma dança da vida, é o saber dançar a vida, é o voltar a descobrirmos os sentimentos que estão dentro de nós. É o falar com o corpo.

 

Mais não se pode dizer sobre a Biodanza, pois na edição de abril teremos cá quem disso bem percebe.

“É. Nada-se na água e eu como já, quando jovem, fui uma golfinha, no FC Porto, a coisa veio mesmo a calhar”.

 

“Adoro da formação!”

 

E a Carla faz ainda voluntariado empresarial e dá resposta ao projeto Comunicar em Segurança?

“A nível do voluntariado empresarial, nós temos um projeto, que a Fundação PT desenvolve, no qual sou uma das voluntárias para dar formação. Adoro dar formação! Achei interessante, porque nós vamos às escolas no âmbito “Comunicar em Segurança” que tem a envolvência do voluntariado empresarial. O projeto abrange alunos desde a primeira classe até ao décimo segundo ano, e damos-lhes alguns alertas e cuidados que eles devem ter com as redes sociais, sobre vários temas que se achou por bem desenvolver e que também é incrementado pela Guarda Nacional Republicana (GNR) mas só ao nível do 1.º e 2.º ciclos. Gosto de, especialmente, dar formação para escolas do interior para ver outras realidades. No ano passado fui a Sande, Marco de Canaveses, e foi como que voltar às minhas raízes uma vez que os meus avós eram de lá.”

 

É uma humanista apaixonada?

“Quando estudava era para tirar o curso de química! (risos)

Hoje, acho que ainda vou tirar psicologia.”

 

Não se esqueça da antropologia…

“Ou isso. Estará entre a antropologia e a psicologia”.

 

“As nossas ações são ações de amor!”

 

“Estamos Aqui…”. Achou o nome interessante. O nome que é dado ao vosso grupo de intervenção junto dos sem-abrigo?

“O primeiro nome era “Estamos Aqui por Vocês”, achamos que ficaria demasiado longo e, assim, deixamos só “Estamos Aqui…”. É engraçado, porque o facto de estarem as duas mãos dadas no nosso símbolo, as pessoas percebem que estamos aqui por afeto e por amor. É precisamente essa mensagem que queremos passar. Nós queremos levar o amor para a rua, as nossas ações, são ações de amor!”

 

Texto: José Gonçalves

Fotos: António Amen

 

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93 Comments

  1. Carla Ribeiro

    Ola minha Amiga
    Mesmo ai no Dubai não paras de me surpreender…
    Obrigada pelas tuas palavras… não vale fazes-mes chorar logo pela manhã.
    Sei que corre td bem convosco por ai.
    Fico feliz por voces, mas confesso que com muitas saudades das nossas conversas e borgas, fazes falta Amiga.
    ok ok eu sei que mesmo longe estas presente…
    Obrigada AMiga, tuas palavras são o que meu coração necessitava neste momento.
    bom sem duvida amiga “Estamos aqui…” é na essencia o AMOR que tb se pode dar a um filho sim, bem fizeste hoje uma analogia que tb tiha feito com uma Amiguinha em conversa…
    Nada acontece mesmo por acaso… e mesmo não tendo adotado um filho como um dia pensei fazer…. bom a cada “Ação de Rua” adoto meus “Amigos de Rua” que necessitam tanto do nosso Amor e carinho, atenção
    Eles nem sonham como nos enchem o coração …
    Obrigada Amiga
    Bjnhs cheios de tuado e vazios de nada para TI em especial e para o teu maridão
    Vá lá portem bem e me presenteiem com uma sobrinha linda, linda como o vosso AMOR…..

  2. CC

    Olá Carlota
    Parabéns pela pessoa linda que és.
    Este “Filho” não o geraste dentro de TI nove meses mas é sem duvida a tua imagem e sem duvida foi feito a tua imagem e semelhança.
    Sempre desejaste adotar uma criança…
    Sim Amiga, Tu já conseguiste…. pois revejo em todos os teus “Amigos de Rua ” como vocês lhes chama com tanto carinho todas as crianças que adoravas ter tido e Amar…
    Tens muitos “Amigos de rua” e tens uma capacidade enorme de amar, por isso estás apta a amar qualquer ser!
    Continua Minha AMIGA nessa tua caminhada de AMOR ao proximo.
    Nunca deixes de ser essa GRANDE MULHER que cada dia que passa mais me orgulha.
    Sou uma priveligiada por te ter como AMIGA
    Carlota, força e se essa GRANDE MULHER que sei que ÉS e que tem essa enorme capacidade de AMAR…
    Beijinhos Amiga
    Espero reverte em breve

  3. Carla Ribeiro

    Olá Miguel
    Só hoje te venho responder, embora ja tenha visto o que escreveste.
    Obrigada pelas tuas palavras.
    Sem duvida temos uma lonfa Amizade que apesar de oceanos a separar sempre fomos estando em contato.
    Sem duvida o “Estamos aqui…” é a minha imagem +e o k neste momento de identifica pois nele me sinto completa ou quase, pois como bem sabes ainda me falta ir até ao IPO mas acho que esse momento virá no momento certo , neste momento abraço este Filho a quem ensinamos a caminhar
    Bom qd vieres ca a Portugal seria fantasticos que voces nos acompanhasse,.
    bjnhs para ti e a restante familia lindda que tens

  4. Miguel

    Olá Carla
    ÉS Magnifica
    Pelo teu testemunho, noto que te sentes completamente realizada e completa.
    Este projeto é sem duvida a tua imagem.
    Continua mesmo quando sei que choras por algo que vivencias durante essas noites fora… pelos que vais perdendo, pelos que vais reencontrando e pelos que de novo encontras.
    És uma MULHER fantástica e com um CORAÇÃO do tamanho do MUNDO.
    Continua mesmo com as adversidades, pois és capaz de ir sempre em frente e és uma MULHER LUTADORA pelos teus objetivos, jamais te vi desistir de uma caminhada mesmo quando as pedras da calçada que vais percorrer são inumeras…
    Muito sucesso para ti e para o teu Grupo pois até no nome que escolheram vocês foram Felizes, pois o nome mostra bem o enorme coração e AMOR que vos Une.
    Parabés Carla e Marco vocês devem fazer uma belissima equipa e ter uma laço de AMIZADe enorme que vos une e faz fazer este caminho juntos.
    Carla para ti um enorme beijo deste Amigo que mesmo longe sempre vai acompanhando o teu caminho.
    Marco, para ti tambem um abraço de alguem que mesmo não te conhecendo te felicita pelo lindo Grupo que voces criaram.
    Sou um felizardo por ter uma Amiga como tu, Carla.
    Beijinhos e continua com essa energia e alegria, e espero qie com aquele sorriso fantastico e contagiante que tinhas.
    Beijinhos e mtas felicidades pois tu mereces Amiga
    Até breve, vou acompanhando as noticias.

  5. Carla Ribeiro

    “Estamos Aqui…”
    Hoje venho fazer-vos um apelo e pedir a vossa preciosa ajuda..
    0 mês de Abril já espreita e ainda não temos Bolachas Tipo Maria para as nossas “Ações de Rua” já agendadas para os dias 6 e 20.
    Se puderes ajudar por favor contata-nos.
    As BOLACHAS TIPO MARIA, são para colocarmos no “Complemento Alimentar” dos nossos “Amigos de Rua”
    Obrigada
    Carla Ribeiro
    “Estamos Aqui…”

  6. F M

    Olá amiga lhe deixaria rosas amarelas ,sinal da força para que essa não lhe falte.
    Com o seu sentimento de ajuda demonstra tudo isso que Deus a ajude por toda a vida ,pois sei que não está a espera de recompença ,olhando esse sorriso lindo diz tudo sorria e seja feliz todos os dias da sua vida
    parabens amiga Carla Ribeiro

  7. Carla Ribeiro

    Boa noite Monteiro,
    Muito Obrigada pelas suas palavras.
    Ademiro a sua coragem de deixar para traz uma Vida e ir para longe recomeçar, pelo que espero que tudo lhe corra bem e possa triunfar por outras terras.
    Obrigada pelas suas palavras e pelo seu testemunho.
    bjnhs e muitas felicidades
    carla ribeiro

  8. monteiro

    bem eu não sei muito bem por onde começar, porque não tenho o costume de fazer comentários mas esta entrevista mexeu comigo porque da maneira que esta o meu pais esta situação tem tendência a piorar eu tive de imigrar para não cair se calhar na situação de sem abrigo, e so com pessoas como a Carla Ribeiro e seus colaboradores a dor dos sem abrigo sera amenizada com o conforto que eles levam a cada sem abrigo, eu contra mim falo se calhar não tinha nada que me levasse a fazer o que esta gente boa faz, porque deixar seus familiares durante a noite para ajudar quem muito precisa, e de louvar e lhes dar toda a força para que continuem a fazer o que fazem com prazer, um abraço a Carla e a todos colaboradores e continuem o que fazem e de louvar bjinhos deste vosso admirador a partir de agora força.

  9. Carla Ribeiro

    Boa tarde Carla Peixoto
    Desde já agradeço as suas palavras.
    Sem duvida devemos chamas as coisas pelos nomes.
    A realidade tambem me vais mostrando que e nesta area tão sensivel, ha que alertar para o que vemos no terreno e perceber como podemos ajudar e tratar as Pessoas como elas merecem.
    Apenas levamos muito AMOR e Dedicação, Atenção para podermos tornar estas nootes tão frias mais quente de sentimentos e de humanismo. São noite repletas de gratiidão pelo imenso que recebo e pelo tão pouco que posso dar….
    muito obrigada
    Carla Ribeiro

  10. Carla Peixoto (porto)

    Eu adoro ler as entrevistas que neste jornal são publicadas. A SUA como a do professor que dá manchete ao jornal, foram a das melhores que até agora li, neste jornal que acompanho há algum tempo.
    Obrigado pelas “Verdades”!

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